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Dedilatex

Posted: July 31st, 2020 | Author: | Filed under: himen elastika literatura erótica anti-pornográfica | Comments Off on Dedilatex

Marcamos às 18hr. Conheci no Tinder apesar de já ter visto. Difícil conhecer alguma lésbica que alguém já não conheça por aqui. Essa rede às vezes é massa. Ajuda a evitar mal-entendidos ou os causa. Não dá pra ter tudo.

Pra não atrasar saí mais cedo. Pra não morrer de nervoso cheguei às 15hr. Assim dá pra conhecer o espaço, trabalhar o corpo, conversar com outros, se adaptar ao ambiente. No fim, nada adianta muito. Recebo um aviso que me dá calafrios: “cheguei no metrô”. Ainda sinto que vou morrer de nervoso. Me permito dizer que estou apaixonada um pouco. Reconforta. Assim que ela chegar, eu disfarço o calor que tô sentindo falando sobre qualquer outra coisa.

 

– Faz tempo que você chegou?

Falou pelas minhas costas. Me virei e fiquei apenas olhando sem falar.

 

– Te assustei? Se soubesse que já tava aqui tinha vindo antes. Tava perto.

Parei um pouco de só observar e finalmente respondi:

 

– Ah, eu sempre chego muito mais cedo. Faz parte do plano.

– Entendi. E aí no seu plano diz que a gente faz o que agora?

 

Lembrei que o combinado pra hoje era uma infinidade de coisas. Tínhamos um sarau aberto, um show que as duas queriam, algumas ruas pra só ficar andando… O combinado tinha sido “ver na hora o que rolar”. Todas opções pareciam ótimas mas o show faria barulho demais pra ouvir ela responder o meu interrogatório discreto de primeiro encontro, o sarau nos obrigaria a apresentar algo e o frio na barriga seria outro e as ruas não pareciam lá uma boa opção.

 

– Tem um lugar por aqui que não é nada do que combinamos.

– Haha! Então me mostra?

 

Atravessamos a rua e sentamos numa calçada, perto da onde sempre se encontram gente mais jovem e alguns músicos ou ativistas. Tem dia que é bom, tem dia que é irritante de leve. Ignorando isso, a vista pra uma parte da cidade é a melhor.

Uma cerveja pra cada uma. Descobri o mapa astral, o nome dos gatos e das irmãs mais novas. Não respondo muito pra não contar de vez tudo. Senti a temperatura do corpo baixar e ficar na temperatura-conforto. Podemos dar as mãos sem pedir e sem incomodar. Ainda não aconteceu um beijo. Entre alguns assuntos fica um silêncio, talvez seja o momento. Mas logo entramos em outro.

 

– Você costuma fazer sexo casual?

– Nos últimos anos, é só o que tenho feito. – ri.

– Pode crer. Circunstâncias da vida. Fiquei assim por uns anos também.

– E como se sente?

– Ah, acostumei. Não é tão legal depois de um tempo mas, às vezes, me diverte. Tem encontros que não precisam acontecer sempre mesmo. Precisam acabar antes.

– Tem dias que eu odeio e tem dias que acho gostoso. Então, aproveito o tempo e a saúde que ainda tenho pra isso.

– Sim. Me preocupa a saúde. Agora. Com a cabeça de hoje. Tento não pilhar demais pensando nos riscos enormes de se relacionar. Senão, nem faria.

– Sabe que não tô acostumada a discutir isso? Quer dizer, eu me cuido do que jeito que acho ideal mas a maioria das minhas parceiras nunca trocaram essa ideia. A saúde das sapatonas fica num limbo profundo. Tem que cavar pra chegar.

 

Conversamos um tempo mais sobre tudo. Não tinha mais certeza se nos beijaríamos. Será que que tinha esquecido? Estava um pouco mais tarde e nós percebemos porque alguns grupos dispersaram. Chega uma hora em SP em que você tem que decidir se vai para o metrô ou não.

 

– Quer ir pra minha casa continuar conversando sobre saúde sexual?

Rimos. – Desculpa ter feito isso virar uma consulta.

– Não desculpo porque gostei. Continuaria aqui mas se a gente não se ligar vamo ficar na rua. Pensei da gente ir pra minha casa mesmo porque lá dá pra trocar essa ideia até cansar, dormir, comer, se pá transar. Tô aberta.

 

Fomos. Tive vontade de mandar mensagem prazamigas no caminho dizendo que a ideia de conversar com as parceiras sobre sexo, prevenção e etc não é o monstro social que criamos.

A casa tinha umas plantas grandes e pequenas na entrada, nos corredores e dentro. Ela me disse como gostava especialmente de algumas e como outras eram básicas pra tudo que precisava. Camomila pra irritações leves. Na vagina ou na cabeça. Alecrim pra crescer os pêlos que não retiramos. Barbatimão pra feridas físicas, sem metáforas. Canela com vinho é afrodisíaca.

 

– Significa que vai me dar vontade de transar com você?

– Sim. Leva um tempinho pra preparar. Teria que ter sido feito antes.

– Que pena.

– Ainda bem que já preparei.

– Haha! O que te fez preparar antes?

– O primeiro encontro que teria com você.

 

Um copo pra cada uma. Senti a temperatura do corpo indicar tesão. Nossos corpos se aproximaram. Tem uma música que toca na minha cabeça que estávamos ouvindo na calçada daquela praça. Combina com os cabelos que coloco pra trás quando nos beijamos. Perfeito o cenário. Tentamos ir pro quarto, parando em praticamente todos os cômodos e cantos do caminho. Um beijo afrodisíaco em cada pedaçinho. Na cama, deitamos uma ao lado da outra. Nos olhamos enquanto cada uma tira a própria roupa rápido e rimos. Às vezes, é bom passar 40 minutos se beijando. Ela me pede um minuto, pega uma camisinha masculina e corta de um jeito que vira uma mantinha. Pede pra me chupar. Coloco uma almofada no quadril e abro as pernas ao máximo. Trago sua cabeça pra perto e fecho os olhos. Preciso de outra almofada pra não gemer alto. Ela faz um sinal com a cabeça dizendo que não precisa. Antes de chegar aqui, conversamos sobre como gozar e gemer são complementares. É melhor quando se pode soltar e se permitir ser sensível. A língua continua no mesmo ritmo. A minha respiração é que se descontrolou e que o meu corpo automaticamente contraiu as pernas.

 

– Afrodisíaca é você.


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