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Socorristas (Conto)

Posted: September 3rd, 2020 | Author: | Filed under: himen elastika literatura erótica anti-pornográfica | Tags: , , , , , , | Comments Off on Socorristas (Conto)

Invadiram o palanque da Câmara dos Deputados na quinta-feira à noite após o expediente dos políticos nas reuniões de sempre que não decidem nada. Guardaram suas mochilas nas cadeiras, dormiram juntas enquanto outras viraram a madrugada repassando o plano de ação da manhã seguinte. Foi, com certeza, a primeira vez que tantas mulheres brasileiras estiveram no local. Claro que só aconteceu através de uma invasão. O efeito foi inquestionável. As câmeras de segurança foram hackeadas e segurança masculina foi fácil de enganar.

A primeira notícia jornalística que denunciou a ação só ocorreu após 16 horas de ocupação. Isso foi um recorde que demonstrou o potencial de organização das envolvidas. Até este momento, as paredes já estavam todas riscadas e pixadas com mensagens escritas ou coladas de protesto. A última proposta política que estaria rondando pela Câmara não poderia ser aceita.

– A minha vontade era a de invadir a casa de cada um deles e fazer o mesmo… o mesmo que fizemos aqui. – disse Sandra observando as paredes.

-Haja tinta! – Cintia deu um suspiro de sorriram.

– Sabe que eu senti falta dessa adrenalina percorrendo meu corpo? Já experimentei muitas sensações muitas sensações mas poucas como essa. – disse Sandra.

– Sim. Não tem paixão ou viagem para o interior que faça bater assim como essa experiência bateu pra mim. – disse Cintia.

Cintia e Sandra eram socorristas, ou seja, mulheres que acompanhavam ou facilitavam abortos clandestinos em contextos criminalizadores. Pensaram, diversas vezes, em fugir do Brasil pra outros lugares mas ir embora é difícil, principalmente , quando ir embora parece fugir ou desistir de casa. Então, nunca foram.

Pela manhã, as responsáveis pela ação organizaram um café e uma roda para compartilhar algumas impressões.

– Cansei de viver nesse contexto de guerra! – uma das mulheres da roda afirmou com o rosto preocupado.

– Foi uma delícia quebrar algumas cadeiras e fazer tudo. Tenho medo do que farão quando descobrirem mas mais medo ainda do que poderá ser feito, se pá por vingança, em nome da lei. – outra mulher da roda.

– Entendo que todas sintam medo, entendo o medo de vocês mais do que qualquer outra coisa. Só não entendo e não aceito o silêncio que estávamos vivendo lá fora antes que fizéssemos algo. Então, hoje eu prefiro viver o orgulho do que o medo. – Cintia falou enquanto saía da roda.

– Às vezes, esses espaços que criamos enchem a gente de medo, né? – Bárbara diz se aproximando.

– Muito. Queria que as mulheres pudessem sentir e perceber mais do que o medo. Sei lá, raiva, um pouco de orgulho ou sensação de satisfação seriam muito mais úteis. Mas entendo que não são emoções simples de serem sentidas pelas mulheres. A gente vive com a cara enfiada numa bacia de culpa e medo. – Cintia lamenta.

As relações construídas em ações políticas feministas são sempre muito complexas. Depois de superadas as barreiras da rivalidade feminina, a pedra no caminho  seguinte é dificuldade das mulheres feministas de se reconhecerem como agentes de ações certas, boas ou úteis.

Aquelas que não dormiram à noite , se prepararam para dormir pela manhã. Cintia, uma delas, arrumou um colchão e deitou a cabeça que precisava de uns minutos de calma. Lembrou de sua companheira que havia ficado em casa. Pensou no calor do seu corpo que seria ideal para que pudesse dormir mais tranquila. Pensou num abraço, em seus seios encontrando os seios dela, os braços enrolados nos cabelos curtos e depois em um beijo. Quase atingindo todos os 5 sentidos. Pensar assim trouxe um pouco de calma, apesar dos barulhos das discussões políticas ao fundo. Resolveu aproveitar a resposta do seu corpo à isso: a imaginação como instrumento anti-stressivo. Cintia imaginou que sua mão pudesse ajudar a tornar o exercício mais real. Caminhou os dedos pelo queixo, ainda com os olhos fechados, passou-os lentamente pelos lábios inferiores da boca, depois pelos lábios internos da vulva com a outra mão e abriu os olhos. Estava sozinha no espaço em que dormia. Ajeitou seu  lençol por causa do frio, esticou as pernas para poder contorcê-las durante o orgasmo e abaixou a calça até metade da perna. Pensou em Bela, sua companheira de novo, e imaginar seu rosto causou uns arrepios. Mordeu o dedo por um instante como fazia sempre que estava excitada. Sentir os pêlos crescidos da buceta com a mão inteira, depois com os dedos e, por fim, com o pulso. Gostava de como conseguia se masturbar girando o pulso no clitóris. Demorava um pouco mais do que quando fazia com os dedos mas Cintia curtia quando demorava. Bela, quando a chupava, dedicava uns dez minutos para cada pedaço, cada lábio, cada lado, cada ponto do território do corpo mas, se quisesse,  poderia provocar um orgasmo em 2 minutos. Às vezes, o corpo é simples. Foi assim que Cintia teve um ou dois orgasmos pensando em sexo oral. Respirou tranquila, lembrou que não poderia falar com Bela durante a ação e se levantou. Foi até onde Sandra dormia e perguntou:

– Posso botar meu colchão perto de você?

Sandra acenou dizendo que sim e dormiram. Minutos atrás, ela também teve um momento de masturbação reflexiva. A companhia de uma para outra fez com que dormissem.


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