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Meu Espelho São As Outras

Posted: June 19th, 2020 | Author: | Filed under: himen elastika literatura erótica anti-pornográfica | Tags: , , , , , | Comments Off on Meu Espelho São As Outras

– Você já masturbou olhando pro espelho?

Sempre fico meio constrangida com essa pergunta.

– Não. Tenho vergonha de olhar pra minha buceta.

E a nossa manhã começou assim com uma pergunta afiada e uma reflexão profunda que parece que entra pelos olhos até ficar cutucando o cérebro.

Há muito tempo temos feito textos e ações feministas pra nos valorizarmos e pra se fazer perder o medo dos nossos corpos. É ruim de assumir que a caminhada ainda é longa e que às vezes a gente esbarra em uns incômodos estranhos. Não há problema em se masturbar, em olhar as outras se masturbando. As duas coisas são extremamente excitantes mas me pega esse lance de abrir as pernas e ver à mim da perspectiva das outras.

Dá um pouco de medo de olhar pro espelho e de repente não me reconhecer. Quando toco a minha siririca sem ele (o espelho) ainda consigo estar escondida e fico tranquila. Me ver friccionando o clitóris bem rápido seria assumir a minha autosexualidade, reconhecer os pequenos e grandes lábios balançando conforme a fricção da siririca poderia me enlouquecer e acho que eu teria vergonha de ver as minhas caretas.

– Você já? (depois de minutos pensando sozinha)

– Me masturbei olhando pro espelho? (riu). É o que eu mais gosto de fazer… depois de me masturbar pra você.

–  Qual é a sensação de se ver?

– Ah… é muito diferente de ver as outras. Tem vezes que eu olho pro espelho, pequeno ou grande, e nem me reconheço. Pareço um pouco diferente porque estou diferente. Sou uma mulher que se masturba pras outras e se masturba pra si mesma. Também gosto de como reconheço os lábios todos, o clitóris, o colo, os pêlos. Sinto como o clitóris incha quando eu o reconheço e, pode me chamar de louca mas me sinto excitada comigo mesma. É praticamente uma transa. Tem as caretas, os gemidos, uma pessoa fora e outra dentro do espelho. Se eu quiser, posso beijar a minha mão e morder o travesseiro. Tem o cheiro de buceta, os orgasmos fortes e a lubrificação escorrendo pelas pernas.

– Não sei… no caminho tenho medo de encontrar com alguém que eu não conheço.

– Se encontrar, essa pessoa ainda será você mesma.

Fiquei aflita e curiosa. Depois que conversamos, tive um enorme tempo livre e sozinha em casa. Um espaço que poderia ser ocupado por qualquer coisa. Mas das coisas todas uma delas eu queria mais.

Não tenho espelho pequeno em casa. Queria exatamente aquele que imaginei: redondo, mais ou menos do tamanho do meu rosto, com uma aste pra segurar. Pensando melhor tem um espelho que eu usava pra me maquiar que vem grudado com o pote de maquiagem. Do tamanho da palma da minha mão. Levo pro quarto e olho pra ele. De perto dá pra ver meus olhos e talvez e nariz. De longe, o rosto. Reparo como a minha boca é bonita. Qual deve ser a sensação de beijá-la? Se eu passo a língua nos lábios inferiores dá pra ter mais ou menos a sensação. Não posso me beijar mas posso passar a mão no meu pescoço e ver o meu rosto aquecendo. Sento direito. As pernas abertas o suficiente pra sentir como estou excitada. Seguro o espelho com as mão esquerda, aponto para a minha boca e me masturbo devagar. Quando percebi que estava me provocando através do espelho estranhei um pouco mas continuei e os movimentos ficaram mais rápidos até eu gozar. Não sei se isso durou 3 horas ou 2 minutos. Impossível de saber. O espaço e o tempo não entenderiam.

Relaxada do orgasmo quis engatar em outro. Deitada na posição normal não me pareceu atraente. Tem um espelho no banheiro que serve pra vermos os nossos rostos quando acordamos mas eu poderia usá-lo como nunca havia usado antes. Foi preciso uma cadeira pra subir e encaixar a minha vagina no ângulo de espelho que refletiria o meu rosto. Dessa vez não tive medo. Com as pernas um pouco fechadas, abri os lábios maiores da vulva e senti a minha vagina molhada enquanto fazia círculos com os dedos. Posso afirmar com toda certeza que fiquei alí por 350 minutos. O ângulo do espelho não permitiria que eu visse o meu rosto então o imaginei. O cabelo bagunçado, os olhos revirando, a boca sendo mordida por mim mesma. Subindo os dedos para o clitóris apertei-o um pouco mais firme e devagar, criando uma pressão e depois um relaxamento, pressão, relaxamento… Repeti o movimento que fazia com os dedos na vagina nos meus seios ao mesmo tempo. Não sei o que me fez ter aqueles orgasmos seguidos.

Seria possível me masturbar de um jeito que pudesse ver meu corpo, meus olhos e a minha buceta juntos? Lembrei do espelho grande da sala e dos 15 minutos que tinha livre até que alguém chegasse. Pensei um pouco enquanto corria pra ele e quando me vi alí, nua, refletida no espelho, realmente não me reconheci. Passaram-se alguns segundos e me acostumei. Quis fazer diferente das outras vezes e deitei no chão com as pernas dobradas e abertas. Como na posição de um parto. Me vi tão linda. Abri um pouco mais as pernas para ver dentro. Senti tanto tesão que parecia que meu corpo estava derretendo. Enquanto me via, contraía a musculatura da vagina, subia e desci o corpo num ritmo que acompanhava a minha respiração. Sentia como se fosse gozar sem me tocar. Ia gozar sem me tocar. Tive um orgasmo e caí no chão.


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