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Vaginas y Pedras Íntimas

Posted: July 1st, 2020 | Author: | Filed under: himen elastika literatura erótica anti-pornográfica | Comments Off on Vaginas y Pedras Íntimas

– Bê, e se a gente adiantar esse lance da viagem?

– Aquela que deixamos pro ano que vem?

– É, sei lá, a gente vive trocando ideia sobre essa viagem que, supostamente, seria a mais importante das nossas vidas, que nos ajudaria a ter coragem, abandonar o medo mas aí fica eu aqui e você aí do outro lado do sofá trocando ideia sentada…. Sinto como se fossemos incapazes de decidir algo.

– Tenho sentido isso também mas acho que nunca teria te falado. Achei que era por causa do… você sabe… do tempo que estamos juntas. Uma relação de muitos anos como a nossa não é intensa pra sempre. Eu não sei se hoje eu consigo arcar com as coisas que imaginávamos antes.

– Talvez seja bom imaginar outras.

– Outras o que?

– Outras coisas. Quando a gente se encontrou sem querer nos rolês do centro eu mal pude contabilizar a quantidade de coisas que imaginei poder fazer juntas. Ainda bem que não consigo lembrar daqueles desejos porque eles eram muito mais pensamentos impulsivos baseados nos meus reflexos-pensamentos do que desejos reais. Percebi que os desejos reais vem com o tempo.

– E o que está acontecendo? Já temos o tempo e aqui dentro sinto uma pequena quantidade de desejos. Adoro tudo que está relacionado à você mas, às vezes, sinto que um pouco de mim não está mais aqui quando estamos juntas. Queria voltar nas sensações do espaço-tempo anteriores, nos primeiros meses que passamos juntas.

– A tentativa de ir pro Uruguai?

– Isso! Lembro de cada coisinha que você me disse no caminho.

Foi a primeira vez que eu viajei com uma mulher com a qual eu não tinha laços de parentesco ou relações sexuais/românticas. Não tenho muitas histórias de viagem também. Na maioria delas eu estava com tias, primas, amigas ou, acompanhada da heterossexualidade compulsória. Então as viagens davam histórias diferentes. Depois eu me tornei uma pessoa diferente que merecia uma nova história. Você apareceu e me lembro de te ver nos encontros iniciais como a famosa lésbica trilheira/mochileira. Estranhei no começo mas foi incrível explorar as nossas sexualidades e as cidades em que estivemos juntas. Explorar no bom sentido, o de descobrir, investigar, entender as coisas à tempo. Ainda bem que fizemos.

Você dizia que o único jeito de sermos felizes, sozinhas ou em relacionamentos afetivos, era conhecendo outros territórios, outras pessoas e outros estados de consciência. Nunca fui muito boa com substâncias que alteravam a consciência rs mas descobrimos juntas como algumas substâncias endógenas – de dentro do corpo – alteravam a consciência, o estado físico do corpo, os humores, a saúde, a espiritualidade, a sensação de ter ou não ter felicidade. O orgasmo virou pra mim a minha substância preferida. Você e ele me levavam pra outros territórios pralém do corpo.

Pra tentar chegar no Uruguai primeiro a gente tentou sair do território do centro. Lembro que o primeiro passo foi acampar na fronteira do nosso estado. Andamos muito. À ponto deu achar que já tinha conversado sobre todos os meus assunto nos primeiros dias. Entrei em desespero por achar que não conseguiria conversar. Você me disse que gostava de silencio nas viagens pra sentir que havia saído do centro. Depois disso nunca mais tive medo.

A gente acampou quilômetros e quilômetros antes da fogueira porque não somos boas com planos. Também porque, bem perto da onde ficamos tinha uma cachoeira escondida, um lago e nenhum sinal de presença humana aparente. Desistir de ir pro Uruguai foi a melhor decisão que fizemos.

A barraca que levei era pra 6. Pensamos que assim ela aguentaria as possíveis crises emocionais que poderiam rolar e assim poderíamos dormir mais separadas, também protegeria todos as coisas que tínhamos das chuvas ou do frio e até mesmo abrigaria alguém a mais, se necessário. Não apareceram outras pessoas, não choveu e a gente não brigou. Lembro que lá pela segunda semana que estávamos juntas, achamos uma pedra que parecia uma vagina mas como estavamos chapadas demais e nunca deu pra saber. Só sei que ficou frio pela primeira vez e tivemos que sair da água. Foi a primeira vez que acendemos a fogueira e deitamos num lençol no chão. Você pediu pra eu reparar nas linhas do fogo que saiam da fogueira. As linhas que pareciam bucetas. Quando a gente tenta desenhar uma buceta de qualquer jeito ou correndo. Ri mas tive que concordar. Te disse que já tinha percebido como a maresia me deixava excitada mas nunca tinha me ligado nas sensações perto do fogo. Os nossos corpos estavam protegidos do frio, protegido dos outros e protegidos das loucuras que as vezes nós mesmas fazemos com eles. Lembro de sentir um calor imenso ao pensar nisso e implorar para que você me ajudasse a ter um orgasmo. Parecia o momento perfeito. Você me beijou por uns minutos sentada em cima de mim e disse pra eu prestar atenção em “como você se derretia por mim às vezes”. Eu disse que me derretia sempre. Então paramos de nos beijar e quando me disse pra eu mostrar como queria fazer eu disse que queria tinha ficado com uma vontade enorme de me masturbar mas que não queria parar de beijá-la. Você deitou o corpo do meu lado direito e as mãos dentro do meu cabelo. Me beijou devagar, com alguns selinhos. Quis me masturbar rápido. Abri os grandes lábios. Peguei um pouco de lubrificação na vagina mas também nas minhas pernas escorrendo. Enfiei o dedo do meio na minha buceta e dobrei-o ao mesmo. Fiquei movimentando. Aproveitei o momento de excitação e com a outra mão fiz um pouco de pressão na região da bexiga. Lembro que adorei parar de beijar sua boca e começar a beijar seus seios. Decidi, meio confusa, demorar mais pra gozar e quando não aguentei mais, tive alguns orgasmos seguidos. Comecei a rir. Achei que tinha feito muito barulho mas então lembrei que só tinha eu e você pra ouvir. Nós duas sabemos que o segredo dos orgasmos múltiplos é poder fazer barulho. Lembro que depois também adorei chupar você enquanto agarrava a minha cabeça com as mãos e puxava pra ir mais fundo acompanhando o movimento da minha língua, pra cima, pra cima. Foi aí que percebi que não era só o orgasmo a grandiosa substância mágica afetiva que eu tinha te falado. A substância era gerada nos movimentos todos: o jeito de dedar a minha buceta, masturbar o meu clitóris, roçar o meu clitóris em outro ou em outras partes do corpo, chupar a sua buceta… No fim a gente não foi pro Uruguai mas foi porque nenhuma de nós desejava sair dalí.

 


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