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COCHILO 0800

Posted: January 10th, 2022 | Author: | Filed under: himen elastika literatura erótica anti-pornográfica | Tags: , , , , , , , | Comments Off on COCHILO 0800

– Tem que pensar bem na última coisa que quer fazer antes de ir.

– Quero fazer uma lista de desejos. Sem ter que sair do colchão.  – disse Lorena.

Me estiquei na intenção de pegar um bloco de notas e Lorena me envolveu com um abraço forte de mãos e pernas.

– Já tenho o primeiro.

– Primeiro o quê? – respondi .

– O primeiro desejo. Quero um dia pra abandonar o medo.

Desenroscamos o abraço e perguntei:

– Qual deles?

– Todos! Quero um dia inteiro sem medo de nada com você.

Esse foi o único pedido da lista de desejos y o desejo mais difícil de todos das listas de desejos e pedidos do mundo. Pensar nisso me causava medo, mas me chamava atenção o jeitinho com que ela lidava com isso.

Combinamos de ser sexta. Ao invés de fazer uma lista de desejos, fizemos uma lista dos medos que não poderiam aparecer.

  • medo de acordar tarde demais e aproveitar pouco o dia
  • medo de não conseguir dormir por lembrar que não vou mais dormir com você
  • medo dos monstros

Os que apareceram. Claro que o medo dos monstros era o mais inevitável e não tinha lista de desejos que o fizesse desaparecer. Os medos dela eram quase como os meus e pensar que tal momento estava se aproximando me dava a impressão de que eles apareceriam mais cedo ou mais tarde. Pra enfrentá-los, combinamos chaves para destravar os medos. Cada chave era um segredo que uma deveria contar à outra. De acordo com os nossos signos y nossas experiências de vida, a ideia de ter que contar um segredo era – geralmente – mais assustadora que nossos medos. Então, nosso corpo entenderia essa chave como um sinal e criaria os anti-corpos necessários.

A tarde inteira anterior nos deixou cansadas e dormir ouvindo o coração fez bem pra descansar e pra afastar os monstros.

– Foi o despertador? Achei que seu coração tinha feito um barulhinho. – disse Lorena.

– Olha, baby, acordamos oito e meia.

– Cedinho. Cê trocou a música?

– Troquei. Pra assustar menos.

Lorena tinha umas teorias estranhas sobre posições de dormir. Dormir de barriga pra cima causa pesadelos. Dormir uma noite inteira de conchinha é impossível. Se ficar agarrada num travesseiro, não consegue acordar cedo. E sua posição preferida para dormir- e na verdade a única possível – era a “de ladinho y ouvindo o coração”, que consiste em basicamente encostar a cabeça nos peitos e arrastar as mãos por cima de mim o máximo possível. As pernas ficam livres pra se agarrar ou não às minhas.  Eu gostava de ser a que ficar de baixo, que guarda, y ela a de cima.

Quando levantamos naquela manhã, meu cérebro associou algumas coisas. De repente percebi que esse era o nosso último dia juntas e pensar nessa situação me deu uma leve vontade de chorar. Trouxe as mãos para o pescoço e pra perto do coração. Lorena levantou, coçou os olhos e se aproximou de mim. Enrolou os seus braços no meu corpo e nós duas reparamos que estávamos lindas no reflexo do espelho. Ainda assim, senti algo:

– O que foi? – perguntou com os olhos dirigidos à mim

– Esqueci de escrever na lista o medo de ficar triste – eu disse

Lorena pegou o celular e digitou algumas palavras. Depois ouvi o meu vibrar na mesa. No nosso chat particular, embaixo das figurinhas divertidas e de áudios de três minutos, tinham três medos a mais para a lista: medo de ficar triste, medo de barata e medo do que a gente vai comer hoje.

– Medo de barata? – perguntei e ri

– Você não estava no sonho que  eu tive hoje. Foi assustador. Tinham muitas.

Dei um beijo em sua testa, sentei em seu colo e apoiamos nossas cabeças.

– Vou fazer um café pra você, mas você me deve um segredo. – disse Lorena se levantando.

– Por quê?

– Porque tá com medo de entristecer. De ficar triste com isso.

Senti meu sol em escorpião gritar, mas também fui afetada por uma onda de bom pressentimento e respondi subitamente.

– Eu gosto de ir sozinha nos lugares pra ficar ouvindo a conversa das pessoas.

Lorena olhou para trás e não se conteve.

– Você respondeu muito rápido. Parece até que já estava com a resposta preparada haha.

– Acho que gostei dessa ideia dos segredos rs

– Eu gosto de passear de ônibus ou trem, usando fone de ouvido e ficar vendo as pessoas, mas sem ouvir as conversas idiotas. – disse Lorena

– Você não precisava contar um segredo. A não ser que…

– Também estou com medo, amor.

Depois do café, tomamos um banho juntas. Um banho longo pra lavar os cabelos. Um banho longo pra deixar a água escorrer bastante pelos olhos até da uma sensação de sono. Maresia. Igual quando a gente é criança e passa o dia inteiro no mar. Não havíamos planejado nada para fazer durante o dia e um dos medos de Lorena ia de encontro com o meu. Ela tinha medo de planejar demais, eu tinha medo de ser obrigada a ser espontânea. Nem sempre nos parecíamos. Ainda bem. A coisa mais interessante de estar com ela era o fato de que sempre apareciam novidades – coisas diferentes para encarar. E na maioria das vezes era divertido.

O banho nos acalmou. Na cama, deitei a cabeça próximo aos seus pés e aproximei meus pés de sua cabeça.

– Eu nunca fiz um 69. – disse.

– O que é isso? Uma confissão? Uma indireta? haha – disse Lorena, rindo.

Fiz uma cara de deboche e passei os dedos em sua perna devagar.

– Os dois!

– Do que você está com medo agora? – ela disse.

– Estou com medo por não termos planejado nada para que nosso último dia seja especial.

– Se te ajuda, prefiro pensar que o dia de hoje nunca será mais especial do que todos os outros dias em que passamos juntas.

– É verdade. Nada supera os 370 cochilos que tiramos sem desgrudar. Ou os rolês 0800 que foram lindos e também quando fomos para aqueles buracos que cê já me arrastou. – disse.

Um silêncio permaneceu entre nós um minutinho.

– Mas com certeza o dia de hoje tá sendo melhor do que aquele em que você inventou de fazer aquela pizza vegana estranha. – afirmei para irritá-la.

– Você disse que tinha gostado!!!
– Era sarcasmo, Lorena rs. A gente tinha acabado de se conhecer e eu me iludi achando que você era uma masterchef por causa das coisas que você postava no instagram.

Naquele momento, fui atropelada por um sentimento de saudade exageradamente forte e desnecessário. Senti meu coração acelerar como se eu estivesse apaixonada – mas sem a parte boa -, minha boca ficar seca e pensei: “não é justo. ela ainda não foi embora”. Lorena se aproximou do meu rosto. Como se tivesse ouvido meus pensamentos. Senti seus dedos fazendo carinho na minha nuca e sua boca se encostando no meu ombro. Recebi um beijo demorado e tudo fez sentido. Não era justo gastar mais nem um minuto daquele dia sentindo medo de coisas que não poderiam ser resolvidas.

Recebi uns beijos nos olhos, no canto da boca, no cólo – perto dos mamilos – e perto do umbigo. Senti um lapso de tesão. Fiz um sinal para que ela me chupasse porque mal conseguia falar. Minhas pernas se aqueceram como se tivessem que bombear sangue para todo o corpo. Os meus olhos franziam conforme meu corpo se contorcia e a minha calcinha – que ainda estava no meu corpo – estava molhada como se tivessem a colocado num balde de água.
Lorena continuava beijando, lambendo e, às vezes, mordendo levemente partes do meu corpo até chegar no meu quadril. Então, abriu minhas pernas e me beijou por cima da calcinha. Segurei sua cabeça com as mãos e pressionei contra mim. Ainda por cima da calcinha, parou de beijar e começou a lamber e chupá-la. Tive a impressão de que meu corpo inteiro ia derreter através da minha vulva.

– Por favor, deixa eu ter um orgasmo em você. – pedi

Lorena fez que sim com a cabeça, tirou minha calcinha e me virou, trocando de posição. Sentei em sua boca e mexi meu quadril pra frente e para trás. A cama nos acompanhou com os barulhos e eu tive uns cinco orgasmos ou um orgasmo de quinze minutos. Desci até encostar minha cabeça no seu coração e ali seguimos a lista de desejos sem medo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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