o que temos

COCHILO 0800

Posted: January 10th, 2022 | Author: | Filed under: himen elastika literatura erótica anti-pornográfica | Tags: , , , , , , , | Comments Off on COCHILO 0800

– Tem que pensar bem na última coisa que quer fazer antes de ir.

– Quero fazer uma lista de desejos. Sem ter que sair do colchão.  – disse Lorena.

Me estiquei na intenção de pegar um bloco de notas e Lorena me envolveu com um abraço forte de mãos e pernas.

– Já tenho o primeiro.

– Primeiro o quê? – respondi .

– O primeiro desejo. Quero um dia pra abandonar o medo.

Desenroscamos o abraço e perguntei:

– Qual deles?

– Todos! Quero um dia inteiro sem medo de nada com você.

Esse foi o único pedido da lista de desejos y o desejo mais difícil de todos das listas de desejos e pedidos do mundo. Pensar nisso me causava medo, mas me chamava atenção o jeitinho com que ela lidava com isso.

Combinamos de ser sexta. Ao invés de fazer uma lista de desejos, fizemos uma lista dos medos que não poderiam aparecer.

  • medo de acordar tarde demais e aproveitar pouco o dia
  • medo de não conseguir dormir por lembrar que não vou mais dormir com você
  • medo dos monstros

Os que apareceram. Claro que o medo dos monstros era o mais inevitável e não tinha lista de desejos que o fizesse desaparecer. Os medos dela eram quase como os meus e pensar que tal momento estava se aproximando me dava a impressão de que eles apareceriam mais cedo ou mais tarde. Pra enfrentá-los, combinamos chaves para destravar os medos. Cada chave era um segredo que uma deveria contar à outra. De acordo com os nossos signos y nossas experiências de vida, a ideia de ter que contar um segredo era – geralmente – mais assustadora que nossos medos. Então, nosso corpo entenderia essa chave como um sinal e criaria os anti-corpos necessários.

A tarde inteira anterior nos deixou cansadas e dormir ouvindo o coração fez bem pra descansar e pra afastar os monstros.

– Foi o despertador? Achei que seu coração tinha feito um barulhinho. – disse Lorena.

– Olha, baby, acordamos oito e meia.

– Cedinho. Cê trocou a música?

– Troquei. Pra assustar menos.

Lorena tinha umas teorias estranhas sobre posições de dormir. Dormir de barriga pra cima causa pesadelos. Dormir uma noite inteira de conchinha é impossível. Se ficar agarrada num travesseiro, não consegue acordar cedo. E sua posição preferida para dormir- e na verdade a única possível – era a “de ladinho y ouvindo o coração”, que consiste em basicamente encostar a cabeça nos peitos e arrastar as mãos por cima de mim o máximo possível. As pernas ficam livres pra se agarrar ou não às minhas.  Eu gostava de ser a que ficar de baixo, que guarda, y ela a de cima.

Quando levantamos naquela manhã, meu cérebro associou algumas coisas. De repente percebi que esse era o nosso último dia juntas e pensar nessa situação me deu uma leve vontade de chorar. Trouxe as mãos para o pescoço e pra perto do coração. Lorena levantou, coçou os olhos e se aproximou de mim. Enrolou os seus braços no meu corpo e nós duas reparamos que estávamos lindas no reflexo do espelho. Ainda assim, senti algo:

– O que foi? – perguntou com os olhos dirigidos à mim

– Esqueci de escrever na lista o medo de ficar triste – eu disse

Lorena pegou o celular e digitou algumas palavras. Depois ouvi o meu vibrar na mesa. No nosso chat particular, embaixo das figurinhas divertidas e de áudios de três minutos, tinham três medos a mais para a lista: medo de ficar triste, medo de barata e medo do que a gente vai comer hoje.

– Medo de barata? – perguntei e ri

– Você não estava no sonho que  eu tive hoje. Foi assustador. Tinham muitas.

Dei um beijo em sua testa, sentei em seu colo e apoiamos nossas cabeças.

– Vou fazer um café pra você, mas você me deve um segredo. – disse Lorena se levantando.

– Por quê?

– Porque tá com medo de entristecer. De ficar triste com isso.

Senti meu sol em escorpião gritar, mas também fui afetada por uma onda de bom pressentimento e respondi subitamente.

– Eu gosto de ir sozinha nos lugares pra ficar ouvindo a conversa das pessoas.

Lorena olhou para trás e não se conteve.

– Você respondeu muito rápido. Parece até que já estava com a resposta preparada haha.

– Acho que gostei dessa ideia dos segredos rs

– Eu gosto de passear de ônibus ou trem, usando fone de ouvido e ficar vendo as pessoas, mas sem ouvir as conversas idiotas. – disse Lorena

– Você não precisava contar um segredo. A não ser que…

– Também estou com medo, amor.

Depois do café, tomamos um banho juntas. Um banho longo pra lavar os cabelos. Um banho longo pra deixar a água escorrer bastante pelos olhos até da uma sensação de sono. Maresia. Igual quando a gente é criança e passa o dia inteiro no mar. Não havíamos planejado nada para fazer durante o dia e um dos medos de Lorena ia de encontro com o meu. Ela tinha medo de planejar demais, eu tinha medo de ser obrigada a ser espontânea. Nem sempre nos parecíamos. Ainda bem. A coisa mais interessante de estar com ela era o fato de que sempre apareciam novidades – coisas diferentes para encarar. E na maioria das vezes era divertido.

O banho nos acalmou. Na cama, deitei a cabeça próximo aos seus pés e aproximei meus pés de sua cabeça.

– Eu nunca fiz um 69. – disse.

– O que é isso? Uma confissão? Uma indireta? haha – disse Lorena, rindo.

Fiz uma cara de deboche e passei os dedos em sua perna devagar.

– Os dois!

– Do que você está com medo agora? – ela disse.

– Estou com medo por não termos planejado nada para que nosso último dia seja especial.

– Se te ajuda, prefiro pensar que o dia de hoje nunca será mais especial do que todos os outros dias em que passamos juntas.

– É verdade. Nada supera os 370 cochilos que tiramos sem desgrudar. Ou os rolês 0800 que foram lindos e também quando fomos para aqueles buracos que cê já me arrastou. – disse.

Um silêncio permaneceu entre nós um minutinho.

– Mas com certeza o dia de hoje tá sendo melhor do que aquele em que você inventou de fazer aquela pizza vegana estranha. – afirmei para irritá-la.

– Você disse que tinha gostado!!!
– Era sarcasmo, Lorena rs. A gente tinha acabado de se conhecer e eu me iludi achando que você era uma masterchef por causa das coisas que você postava no instagram.

Naquele momento, fui atropelada por um sentimento de saudade exageradamente forte e desnecessário. Senti meu coração acelerar como se eu estivesse apaixonada – mas sem a parte boa -, minha boca ficar seca e pensei: “não é justo. ela ainda não foi embora”. Lorena se aproximou do meu rosto. Como se tivesse ouvido meus pensamentos. Senti seus dedos fazendo carinho na minha nuca e sua boca se encostando no meu ombro. Recebi um beijo demorado e tudo fez sentido. Não era justo gastar mais nem um minuto daquele dia sentindo medo de coisas que não poderiam ser resolvidas.

Recebi uns beijos nos olhos, no canto da boca, no cólo – perto dos mamilos – e perto do umbigo. Senti um lapso de tesão. Fiz um sinal para que ela me chupasse porque mal conseguia falar. Minhas pernas se aqueceram como se tivessem que bombear sangue para todo o corpo. Os meus olhos franziam conforme meu corpo se contorcia e a minha calcinha – que ainda estava no meu corpo – estava molhada como se tivessem a colocado num balde de água.
Lorena continuava beijando, lambendo e, às vezes, mordendo levemente partes do meu corpo até chegar no meu quadril. Então, abriu minhas pernas e me beijou por cima da calcinha. Segurei sua cabeça com as mãos e pressionei contra mim. Ainda por cima da calcinha, parou de beijar e começou a lamber e chupá-la. Tive a impressão de que meu corpo inteiro ia derreter através da minha vulva.

– Por favor, deixa eu ter um orgasmo em você. – pedi

Lorena fez que sim com a cabeça, tirou minha calcinha e me virou, trocando de posição. Sentei em sua boca e mexi meu quadril pra frente e para trás. A cama nos acompanhou com os barulhos e eu tive uns cinco orgasmos ou um orgasmo de quinze minutos. Desci até encostar minha cabeça no seu coração e ali seguimos a lista de desejos sem medo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 


O corpo em que coube uma vagina – Conto erótico

Posted: March 14th, 2021 | Author: | Filed under: himen elastika literatura erótica anti-pornográfica | Tags: , , , , , , , , | Comments Off on O corpo em que coube uma vagina – Conto erótico

“Aguardente

para aguardar você.

Do “ardente” me faltou o “ar”

quando eu reparei

que já seria

um corpo em que coube uma vagina

e que sabia o que viria.”

Esse texto virou notícia na cidade em que viviam Camila e suas amigas.  Cada pedacinho de palavra que compunha as frases esquentava o rosto das leitoras, mas também dos denunciadores seguintes. As pessoas que leram e se incomodaram, relataram seus incômodos com a palavra vagina e com a hipótese do texto ser de caráter lésbico.

Mas como sempre se imagina, muitas mulheres e meninas da cidade se encantaram com o que diziam aquelas palavras coladas nas paredes de diversos lugares da cidade como lambe-lambes.

Camila era uma delas. Encontrou com Cecília ao meio-dia para discutirem uns textos da faculdade, mas em um momento de distração, Cecília soltou o que pensava sobre o texto que viralizou:

– Não sei quem fez porque não tem autoria mas poderia dizer que tem a cara de qualquer uma de nós.

– Com certeza, eu não seria tão criativa. – disse Camila.

– Será que não? Já tentou sentar pra escrever uns lances desses? – disse Cecília.

– Não… Mas acho que prefiro ler as reflexões das outras e achar coisas que me tocam. – disse Camila.

Voltaram aos textos acadêmicos por mais 10 minutos, até que se questionaram:

– O que será que ela quis dizer com isso? – Cecília.

– Isso o quê? – disse Camila.

– “um corpo em que coube uma vagina”… – disse Cecília.

– Entendi que ela quis dizer que ter uma vagina não é simples. Ganhamos e perdemos muitas coisas quando nascemos com uma e por isso não pra  qualquer um. – disse Camila.

– E você gosta de ter uma? – disse Cecília.

– Hoje sim. Mas ainda acho difícil. Só que além de achar difícil, acho legal, sensual, bonito e inspirador. Tá aí a diferença. – disse Camila.

Camila e Cecília se conheceram logo no início da faculdade de arquitetura em grupos que discutiam sobre diversos feminismos. Reivindicavam sempre o quanto ter uma vagina afetava a vida de algumas pessoas e o quanto ter um pênis trazia mais “poder” à outras. Esses debates eram difíceis. Depois de um tempo, eles se tornaram impossíveis e praticamente inexistentes, pelo menos na academia.

Na vida fora da universidade – e no rolê sapatão principalmente – as vaginas eram observadas, discutidas e admiradas o tempo todo. Às vezes como musas, outras como objeto de estudo coletivo ou como um assunto recorrente.

Cecí tinha algumas tatuagens de buceta nos braços e nas costas. Camila preferia que os desenhos de buceta ficassem fora de seu corpo e pintava-os nas paredes das ruas. Cecí e Camila compartilhavam o tempo todo desenhos, projetos, textos ou outras expressões artísticas que envolvessem bucetas. Às vezes compartilhavam suas próprias bucetas, uma com a outra.

Apesar de não ser muito frequente, as duas tinham um acordo de relação sexual casual que mantinham a anos. Teve início quando, depois de alguns meses de amizade, Camila sentiu uma tensão sexual muito grande entre elas e compartilhou com Cecí que correspondeu a sensação. Por vários motivos, decidiram não entrar num relacionamento monogâmico mas também acordaram em não ignorar essa atração sexual e em dar chances à isso.

A tensão sexual entre as duas se intensificava quando algumas coisas aconteciam em específico. Geralmente em períodos de mais criatividade artística – das duas partes – a atração sexual era praticamente inevitável. Sexo seria uma continuidade artística e uma forma de demonstrar carinho.

Dias depois de quando se encontraram para lerem os textos da universidade, Cecí ligou para Camila para contar sobre uma ideia de um projeto: “Vulgo Vulva”, que misturaria literatura com artes e feminismo. As duas animaram de entrar e produzir. Passaram mais de 1 hora combinando os detalhes por telefone, até que Cecí ia desligar e Camila interrompeu o tchau:

– Cecí, porque não vem aqui pra gente se pegar um pouquinho? Sabe como eu fico quando você me desperta pras artes. – disse Camila.

– Pensei o mesmo. Mas como tá aí na sua casa? Não tava recebendo umas amigas em casa? – disse Cecília.

– Estou, mas elas não ligam. Onde cabe uma buceta, cabem duas, três… – disse Camila.

Naquele mesmo dia, se encontraram. Cecí trouxe um buquê de flores. Camila estranhou e riram juntas. Decidiram cozinhar juntas pra lembrar os velhos tempos – ou os encontros anteriores. Nenhuma das duas cozinhava bem mas Camila fazia com que o ato de cozinhar parecesse mais bonito. Estavam ouvindo Luisa Maita e uma playlist gigantesca de cantoras que gostavam em comum. O dia foi entardecendo e luz do sol que estava forte, baixou um pouco.

– Gosto de quando a luz fica assim. – disse Camila.

– Gosto de você. – disse Cecí.

Camila se aproximou de Cecí, fez carinho em seu braço com a ponta dos dedos enquanto olhava para os seus seios. Cecí levantou seu rosto com os dedos e as duas se olharam e deram um sorriso frouxo. O rosto de Camila começou a esquentar quando Cecí chegou mais perto do seu corpo e entrou com os dedos em seu cabelo. Sua respiração ficou mais pontual. Respirava mais forte quando a boca de Cecília encostava em seu pescoço ou quando os dedos dela passavam em seus mamilos por cima da blusa. As duas tiraram as camisetas por conta do calor que elas mesmo provocaram. Com os mamilos ainda duros, Camila pediu um beijo e um abraço apertado. Assim o fizeram durante 5 ou 10 minutos.  Agora além dos rostos corados e os mamilos duros, as duas podiam sentir a lubrificação das suas vaginas e a tensão sexual aumentando.

Cecí colocou um dos dedos de Camila em sua boca. Depois dois… três. Ela sabia o quanto isso a deixava excitada e o quanto era prazeroso pra ela sentir a textura dos dedos que logo estariam dentro da sua vagina. Camila pegou os dedos molhados de saliva e massageou a parte de fora da vulva. Sentiu o clitóris inchado e as pernas começando a tremer. Esperou um pouco e enfiou dois dedos na vagina. O polegar permaneceu fora, massageando o clitóris em movimentos coordenados. Com a outra mão, sentia o seu rosto quente, seus lábios  e os seus seios. Mantendo todos esses movimentos até perceber um orgasmo. Cecí respirou fundo e depois da alma voltar para o corpo, disse:

– Dá pra gente fazer mais uma?

 

 


Socorristas (Conto)

Posted: September 3rd, 2020 | Author: | Filed under: himen elastika literatura erótica anti-pornográfica | Tags: , , , , , , | Comments Off on Socorristas (Conto)

Invadiram o palanque da Câmara dos Deputados na quinta-feira à noite após o expediente dos políticos nas reuniões de sempre que não decidem nada. Guardaram suas mochilas nas cadeiras, dormiram juntas enquanto outras viraram a madrugada repassando o plano de ação da manhã seguinte. Foi, com certeza, a primeira vez que tantas mulheres brasileiras estiveram no local. Claro que só aconteceu através de uma invasão. O efeito foi inquestionável. As câmeras de segurança foram hackeadas e segurança masculina foi fácil de enganar.

A primeira notícia jornalística que denunciou a ação só ocorreu após 16 horas de ocupação. Isso foi um recorde que demonstrou o potencial de organização das envolvidas. Até este momento, as paredes já estavam todas riscadas e pixadas com mensagens escritas ou coladas de protesto. A última proposta política que estaria rondando pela Câmara não poderia ser aceita.

– A minha vontade era a de invadir a casa de cada um deles e fazer o mesmo… o mesmo que fizemos aqui. – disse Sandra observando as paredes.

-Haja tinta! – Cintia deu um suspiro de sorriram.

– Sabe que eu senti falta dessa adrenalina percorrendo meu corpo? Já experimentei muitas sensações muitas sensações mas poucas como essa. – disse Sandra.

– Sim. Não tem paixão ou viagem para o interior que faça bater assim como essa experiência bateu pra mim. – disse Cintia.

Cintia e Sandra eram socorristas, ou seja, mulheres que acompanhavam ou facilitavam abortos clandestinos em contextos criminalizadores. Pensaram, diversas vezes, em fugir do Brasil pra outros lugares mas ir embora é difícil, principalmente , quando ir embora parece fugir ou desistir de casa. Então, nunca foram.

Pela manhã, as responsáveis pela ação organizaram um café e uma roda para compartilhar algumas impressões.

– Cansei de viver nesse contexto de guerra! – uma das mulheres da roda afirmou com o rosto preocupado.

– Foi uma delícia quebrar algumas cadeiras e fazer tudo. Tenho medo do que farão quando descobrirem mas mais medo ainda do que poderá ser feito, se pá por vingança, em nome da lei. – outra mulher da roda.

– Entendo que todas sintam medo, entendo o medo de vocês mais do que qualquer outra coisa. Só não entendo e não aceito o silêncio que estávamos vivendo lá fora antes que fizéssemos algo. Então, hoje eu prefiro viver o orgulho do que o medo. – Cintia falou enquanto saía da roda.

– Às vezes, esses espaços que criamos enchem a gente de medo, né? – Bárbara diz se aproximando.

– Muito. Queria que as mulheres pudessem sentir e perceber mais do que o medo. Sei lá, raiva, um pouco de orgulho ou sensação de satisfação seriam muito mais úteis. Mas entendo que não são emoções simples de serem sentidas pelas mulheres. A gente vive com a cara enfiada numa bacia de culpa e medo. – Cintia lamenta.

As relações construídas em ações políticas feministas são sempre muito complexas. Depois de superadas as barreiras da rivalidade feminina, a pedra no caminho  seguinte é dificuldade das mulheres feministas de se reconhecerem como agentes de ações certas, boas ou úteis.

Aquelas que não dormiram à noite , se prepararam para dormir pela manhã. Cintia, uma delas, arrumou um colchão e deitou a cabeça que precisava de uns minutos de calma. Lembrou de sua companheira que havia ficado em casa. Pensou no calor do seu corpo que seria ideal para que pudesse dormir mais tranquila. Pensou num abraço, em seus seios encontrando os seios dela, os braços enrolados nos cabelos curtos e depois em um beijo. Quase atingindo todos os 5 sentidos. Pensar assim trouxe um pouco de calma, apesar dos barulhos das discussões políticas ao fundo. Resolveu aproveitar a resposta do seu corpo à isso: a imaginação como instrumento anti-stressivo. Cintia imaginou que sua mão pudesse ajudar a tornar o exercício mais real. Caminhou os dedos pelo queixo, ainda com os olhos fechados, passou-os lentamente pelos lábios inferiores da boca, depois pelos lábios internos da vulva com a outra mão e abriu os olhos. Estava sozinha no espaço em que dormia. Ajeitou seu  lençol por causa do frio, esticou as pernas para poder contorcê-las durante o orgasmo e abaixou a calça até metade da perna. Pensou em Bela, sua companheira de novo, e imaginar seu rosto causou uns arrepios. Mordeu o dedo por um instante como fazia sempre que estava excitada. Sentir os pêlos crescidos da buceta com a mão inteira, depois com os dedos e, por fim, com o pulso. Gostava de como conseguia se masturbar girando o pulso no clitóris. Demorava um pouco mais do que quando fazia com os dedos mas Cintia curtia quando demorava. Bela, quando a chupava, dedicava uns dez minutos para cada pedaço, cada lábio, cada lado, cada ponto do território do corpo mas, se quisesse,  poderia provocar um orgasmo em 2 minutos. Às vezes, o corpo é simples. Foi assim que Cintia teve um ou dois orgasmos pensando em sexo oral. Respirou tranquila, lembrou que não poderia falar com Bela durante a ação e se levantou. Foi até onde Sandra dormia e perguntou:

– Posso botar meu colchão perto de você?

Sandra acenou dizendo que sim e dormiram. Minutos atrás, ela também teve um momento de masturbação reflexiva. A companhia de uma para outra fez com que dormissem.


Rajados

Posted: August 26th, 2020 | Author: | Filed under: himen elastika literatura erótica anti-pornográfica | Tags: , , , , , , | Comments Off on Rajados

– Você transa com os gatos olhando?

Na casa onde moravam, o espaço era perfeito para 1 gato. Tinham 3. Assim cada uma poderia cuidar de um e dividir os cuidados. No início até pensaram em não adotar nenhum e assim construir uma das poucas casas de lésbicas sem gatos da história mas Fernanda achou um na rua, trouxe pra casa e não tornou mais essa ideia possível. Hoje em dia é até mais divertido entre elas. Sempre estão acompanhadas delas mesmas ou dos felinos. A casa sempre tem uma companhia especial.

Os gatos não costumam dormir dentro de seus quartos mas, na maioria das vezes, as portas permanecem entreabertas e eles caminham escondido em busca de cantinhos das mesas ou de cortinas ou objetos macios. Por isso, num sábado cozinhando, Camila perguntou à Amanda se ela já tinha se incomodado com a presença dos gatos enquanto ela transava.

– Cê sabe que eu não tenho transado muito, né? (riu) Mas, sei lá, no geral acho que não me incomoda, que eles não fixam olhando fixamente como dizem por aí e que talvez nem liguem para o que tá rolando. – disse Amanda.

– Sei… Mas perguntei porque esses dias tava deitada com Carol, a gente nem tava transando exatamente mas estávamos num momento de carinho, de repente, o Rajado (gato) pulou no travesseiro e subiu na minha cabeça. Ele subiu na minha cabeça!! Aí mandamos ele descer, ele desceu mas sentou numa cadeira na frente da cara e ficou olhando pra gente sem piscar. Daí não conseguimos mais. – disse Camila.

– Hahaha! Vocês ficaram com vergonha dele? – disse Amanda.

– Vergonha nada, eu fiquei é com medo do bicho me olhando como se fosse voar em cima de mim. – disse Camila.

– Ai amiga, mas a Carol é encanada assim que nem você? – disse Amanda.

– Então, não sei, será que ela se encana? Vou falar com ela. – disse Camila.

– Fala, bixa! Cês já tão saindo a um tempo, num tão? Às vezes ela nem liga. – disse Amanda.

No dia seguinte, Carol foi visitar Camila, conversaram e riram juntas sobre o misterioso incômodo ou não-incômodo dos gatos. No geral, nenhuma delas ligava tanto mas concordaram que era melhor fechar porta por vários motivos. Carolina tava recente na rotina de Camila e, no começo, as coisas podem ser bem intensas. É muito frequente que uma sinta vontade da outra o tempo todo. As duas dormiram juntas durante uma semana inteira e no primeiro dia ficaram muito próximas. De tardezinha, no sofá, Carol disse:

– Às vezes, eu sinto vontade de entrar dentro do seu corpo pra ver como ele é quente. É uma sensação que fica ainda mais forte quanto eu enfio uns dedos em você ou chupo a sua buceta. Você é toda quente e as partes de dentro que conheço – as paredes da vagina, o cólo, a língua – estão sempre aquecidas. É bom sentí-las quando estou com frio ou simplesmente quando tô em busca de um calor não tão físico, um afeto.

– Gosto muito de você e acho que entendo isso, por mais estranho que pareça rs. Que bom que cê veio e a gente aqui. – disse Camila passando a mão na sua perna.

– Quando você fala assim comigo, tão linda, eu fico tão molhada que, às vezes, tenho a impressão de que vai escorrer pelas pernas e molhar a roupa, o sofá, o chão… – disse Carol.

Depois de conversarem, Carolina guiou a mão de Camila da sua perna para sua boca. Chupou os dedos, um por um, devagar enquanto olhava fixamente nos seus olhos. Percebia olhares de excitação e prazer em Camila que a observava. Beijou os seus dedos, sua mão, o braço inteiro. Passou a língua pelo seu pescoço antes de te dar um beijo. Sorriu de leve e ela retribuiu. Abriu as pernas de Camila aos poucos enquanto a beijava e passou os dedos perto do seu clitóris ainda por cima da calcinha. Deu pra sentir e foi mais fácil de encontrar um ponto gostoso com o tempo e a prática. Movimentou os dedos em formato circular. Camila pediu:

– Vai mais forte.

Quando os movimentos estavam mais rápido e o corpo chegava a ter espasmos, Camila também tocou Carolina com os 4 dedos juntos em formato de “concha”, acariciou os lábios externos, separou-os e tocou o clitóris ao mesmo tempo em que estava sendo tocada. As duas fecharam os olhos pra manter a concentração. Uma respiração atrás da outra. Camila mordeu o lábio e abafou um pouco o gemido enquanto teve um orgasmo. Carol teve em seguida mas não segurou.

Um orgasmo compartilhado chega a ser, quase tão difícil, quanto os orgasmos múltiplos. Mas é sempre bom tê-los.

 

 

 

 


Cumbia Del Inferno

Posted: July 8th, 2020 | Author: | Filed under: himen elastika literatura erótica anti-pornográfica | Tags: , , , , , | Comments Off on Cumbia Del Inferno

– Melhor fazer aqui ou em outro lugar?

– Ah, cê sabe que pra mim o melhor lugar é a casa. Sempre. Sem contar que aqui a gente se protege do tédio, caso ele apareça; se protege de qualquer climão que possa surgir e de todas as outras coisas possíveis.

– Tá. Então vou convidar só quem eu acho que vem mesmo. Você vai chamar todas as suas amigas?

– Nossas amigas são as mesmas rs

Uma parte só. Mas tenho que admitir que depois de que decidimos morar juntas isso ficou mais intenso. As nossas amigas são as mesmas. Como ela mesma disse. Facilita em partes porque a lista é uma só pras festas mas quando se trata de socorro ou de consolo, a lista também é uma só. É a mesma.

Não estudamos juntas nem nos conhecemos no trabalho. As amigas realmente vieram de locais diferentes mas na comunidade sapatão a integração é rápida e quando fui perceber os círculos já tinham se misturado. Sem contar que, algumas já haviam se relacionado com outras como já estamos acostumadas.

Hoje ficou decidido que iríamos apresentar a casa e o “viver juntas” pra todas. A gente também decidiu não casar e este seria o momento que substituiria o casamento. A nossa festa. Tenho até um vestido de noiva colorido que não se parece nada com um tradicional. Isa vai vestir algo que não sei, junto com um chapéu mexicano. Cumbia. Pensamos em algumas pinturas corporais pro rosto e pro corpo. Queria usar algo azul nos olhos.

Tomara que todas venham com fantasias. A festa tem um propósito mas também é uma desculpa para me vestir de demônio e receber as mulheres que eu gosto. Não sei se Isa sabe mas eu me sinto realmente mais atraente quando me fantasio assim. Me fantasio às vezes, fora de contexto, pra mim mesma e fico reparando em como o meu olhar gosta do que vejo.

– Bem, uma amiga minha que você ainda não conhece vai vir hoje, tudo bem?

– Por mim tudo bem. Vou começar a me trocar. Recebi umas fotos no grupo. Você não vai ser a única com um chapéu mexicano rs

– O nome dela é Débora.

– Hm, bonito o nome. Sinto que quer me dizer alguma coisa.

– Quero. Tive um sonho hoje a noite com ela. Nunca me aconteceu de sentir atração nem nada mas no sonho a gente transava aqui.

– Nós três?

– Sim, eu você e ela.

– E você acha que a gente devia fazer?

– Haha não sei. Acho que te contei isso mais porque eu sei que você pensa em fazer um menage e tenho sentido uma parte de mim querer também.

– Tá bem, amor. Vou ficar atenta aos detalhes hoje. Por que não me apresenta ela e nós vemos como as coisas acontecem? Sei lá, não gosto muito de marcar essas coisas. É bom quando essas situações só fluem.

Antes de me trocar pensei em me masturbar no chuveiro. Tem um vibrador que quase não usamos pra quando tem água corrente envolvida. Sempre me sinto melhor e mais viva depois de gozar comigo mesma. Me fantasiar depois disso foi um ritual muito mais gostoso e sensível. Podia sentir meus dedos mais ágeis para pentear os meus cabelos, os batimentos cardíacos mais leves depois de passar o corpo por um estado de clímax e a boca com um pouco de saliva. Me masturbar me causa muitas coisas boas mas, quase nunca me deixa com menos vontade de transar. O efeito é outro e as duas coisas são diferentes.

– Já ligo o som?

– Sim. Quero dançar um pouco você antes.

– Antes do que?

– Antes das outras chegarem, antes de você me apresentar pra sua amiga que eu ainda não conheço, antes da gente talvez fazer um menage.

Rimos juntas e dançamos um pouco juntas. Algumas de nossas amigas chegaram antes. Mais tarde a casa encheu. Em um momento Isa veio até onde estava, avisou no meu ouvido que ela havia chegado, deu um sorrisinho e saiu. Senti um arrepio e sabia o que significava. Antes de seguí-la, parei e observei o meu corpo: corado, com um pouco de calor e uma pequena lubrificação na vagina. Penso se não foi a cumbia grave de fundo que transformou essa informação simples num convite extremamente excitante que percorreu todo o meu corpo, ou ainda, as fantasias que usamos todas e que representam parte dos nossos desejos. Fiquei paralisada uns segundos pensando, mordisquei a boca e fui atrás delas.

– Essa é Carla. Carla essa é a Lorena minha companheira.

– Finalmente! Isabela sempre falou de você e ja estava começando a pensar que ela tinha uma namorada imaginária.

– Haha então que bom que a gente se encontrou pra você ver que eu existo e que faço uma caipirinha maravilhosa. Você quer?

Fomos as três pra cozinha. Conversamos a maior parte da noite. As três. Carla queria ouvir histórias sobre as nossas amigas que estavam na festa porque não conhecia ninguém. Só nós duas. À cada história que contávamos nos olhávamos no fundo dos olhos. As três. No começo olhares mais tímidos mas ao longo dos minutos alguns olhares começaram a acompanhar alguns suspiros. As histórias ainda estavam sendo contadas mas era somente uma desculpa pra ainda continuar mexendo a boca e a língua. Nos aproximamos para facilitar um beijo entre duas. Depois entre as três e alternando. Perguntei se elas achavam que seria muito ruim se escapássemos uns minutos da nossa própria festa. Subimos para o quarto. Acho que ninguém reparou. Fui a primeira a ir para a janela e ficar observando as duas. Disse que me agradaria vê-las dalí um pouco. Gostei da presença do som da cumbia ao fundo, de ouvir os suspiros, os beijos e as vezes em que olhavam para mim. Confesso que ver a minha companheira chupando a buceta dela me proporcionou um orgasmo visual. Visual e físico. De ficar escorrendo. Depois de sentir as coxas molhadas, passei a mão e chupei os dedos. Deitei ao lado delas. Assisti seus orgasmos até o final. Senti uma sensação extrema de relaxamento.

– Deixa eu sentar em você? – Disse pra Carla que estava retomando a respiração aos poucos.

Sentei e ela revirou os olhos quando percebeu o quanto estava molhada. Ao mesmo tempo, pediu pra ser chupada de novo e assim fizemos ficando imersas nos nossos barulhos até retornarmos aos barulhos da festa que havíamos marcado.