o que temos

COCHILO 0800

Posted: January 10th, 2022 | Author: | Filed under: himen elastika literatura erótica anti-pornográfica | Tags: , , , , , , , | Comments Off on COCHILO 0800

– Tem que pensar bem na última coisa que quer fazer antes de ir.

– Quero fazer uma lista de desejos. Sem ter que sair do colchão.  – disse Lorena.

Me estiquei na intenção de pegar um bloco de notas e Lorena me envolveu com um abraço forte de mãos e pernas.

– Já tenho o primeiro.

– Primeiro o quê? – respondi .

– O primeiro desejo. Quero um dia pra abandonar o medo.

Desenroscamos o abraço e perguntei:

– Qual deles?

– Todos! Quero um dia inteiro sem medo de nada com você.

Esse foi o único pedido da lista de desejos y o desejo mais difícil de todos das listas de desejos e pedidos do mundo. Pensar nisso me causava medo, mas me chamava atenção o jeitinho com que ela lidava com isso.

Combinamos de ser sexta. Ao invés de fazer uma lista de desejos, fizemos uma lista dos medos que não poderiam aparecer.

  • medo de acordar tarde demais e aproveitar pouco o dia
  • medo de não conseguir dormir por lembrar que não vou mais dormir com você
  • medo dos monstros

Os que apareceram. Claro que o medo dos monstros era o mais inevitável e não tinha lista de desejos que o fizesse desaparecer. Os medos dela eram quase como os meus e pensar que tal momento estava se aproximando me dava a impressão de que eles apareceriam mais cedo ou mais tarde. Pra enfrentá-los, combinamos chaves para destravar os medos. Cada chave era um segredo que uma deveria contar à outra. De acordo com os nossos signos y nossas experiências de vida, a ideia de ter que contar um segredo era – geralmente – mais assustadora que nossos medos. Então, nosso corpo entenderia essa chave como um sinal e criaria os anti-corpos necessários.

A tarde inteira anterior nos deixou cansadas e dormir ouvindo o coração fez bem pra descansar e pra afastar os monstros.

– Foi o despertador? Achei que seu coração tinha feito um barulhinho. – disse Lorena.

– Olha, baby, acordamos oito e meia.

– Cedinho. Cê trocou a música?

– Troquei. Pra assustar menos.

Lorena tinha umas teorias estranhas sobre posições de dormir. Dormir de barriga pra cima causa pesadelos. Dormir uma noite inteira de conchinha é impossível. Se ficar agarrada num travesseiro, não consegue acordar cedo. E sua posição preferida para dormir- e na verdade a única possível – era a “de ladinho y ouvindo o coração”, que consiste em basicamente encostar a cabeça nos peitos e arrastar as mãos por cima de mim o máximo possível. As pernas ficam livres pra se agarrar ou não às minhas.  Eu gostava de ser a que ficar de baixo, que guarda, y ela a de cima.

Quando levantamos naquela manhã, meu cérebro associou algumas coisas. De repente percebi que esse era o nosso último dia juntas e pensar nessa situação me deu uma leve vontade de chorar. Trouxe as mãos para o pescoço e pra perto do coração. Lorena levantou, coçou os olhos e se aproximou de mim. Enrolou os seus braços no meu corpo e nós duas reparamos que estávamos lindas no reflexo do espelho. Ainda assim, senti algo:

– O que foi? – perguntou com os olhos dirigidos à mim

– Esqueci de escrever na lista o medo de ficar triste – eu disse

Lorena pegou o celular e digitou algumas palavras. Depois ouvi o meu vibrar na mesa. No nosso chat particular, embaixo das figurinhas divertidas e de áudios de três minutos, tinham três medos a mais para a lista: medo de ficar triste, medo de barata e medo do que a gente vai comer hoje.

– Medo de barata? – perguntei e ri

– Você não estava no sonho que  eu tive hoje. Foi assustador. Tinham muitas.

Dei um beijo em sua testa, sentei em seu colo e apoiamos nossas cabeças.

– Vou fazer um café pra você, mas você me deve um segredo. – disse Lorena se levantando.

– Por quê?

– Porque tá com medo de entristecer. De ficar triste com isso.

Senti meu sol em escorpião gritar, mas também fui afetada por uma onda de bom pressentimento e respondi subitamente.

– Eu gosto de ir sozinha nos lugares pra ficar ouvindo a conversa das pessoas.

Lorena olhou para trás e não se conteve.

– Você respondeu muito rápido. Parece até que já estava com a resposta preparada haha.

– Acho que gostei dessa ideia dos segredos rs

– Eu gosto de passear de ônibus ou trem, usando fone de ouvido e ficar vendo as pessoas, mas sem ouvir as conversas idiotas. – disse Lorena

– Você não precisava contar um segredo. A não ser que…

– Também estou com medo, amor.

Depois do café, tomamos um banho juntas. Um banho longo pra lavar os cabelos. Um banho longo pra deixar a água escorrer bastante pelos olhos até da uma sensação de sono. Maresia. Igual quando a gente é criança e passa o dia inteiro no mar. Não havíamos planejado nada para fazer durante o dia e um dos medos de Lorena ia de encontro com o meu. Ela tinha medo de planejar demais, eu tinha medo de ser obrigada a ser espontânea. Nem sempre nos parecíamos. Ainda bem. A coisa mais interessante de estar com ela era o fato de que sempre apareciam novidades – coisas diferentes para encarar. E na maioria das vezes era divertido.

O banho nos acalmou. Na cama, deitei a cabeça próximo aos seus pés e aproximei meus pés de sua cabeça.

– Eu nunca fiz um 69. – disse.

– O que é isso? Uma confissão? Uma indireta? haha – disse Lorena, rindo.

Fiz uma cara de deboche e passei os dedos em sua perna devagar.

– Os dois!

– Do que você está com medo agora? – ela disse.

– Estou com medo por não termos planejado nada para que nosso último dia seja especial.

– Se te ajuda, prefiro pensar que o dia de hoje nunca será mais especial do que todos os outros dias em que passamos juntas.

– É verdade. Nada supera os 370 cochilos que tiramos sem desgrudar. Ou os rolês 0800 que foram lindos e também quando fomos para aqueles buracos que cê já me arrastou. – disse.

Um silêncio permaneceu entre nós um minutinho.

– Mas com certeza o dia de hoje tá sendo melhor do que aquele em que você inventou de fazer aquela pizza vegana estranha. – afirmei para irritá-la.

– Você disse que tinha gostado!!!
– Era sarcasmo, Lorena rs. A gente tinha acabado de se conhecer e eu me iludi achando que você era uma masterchef por causa das coisas que você postava no instagram.

Naquele momento, fui atropelada por um sentimento de saudade exageradamente forte e desnecessário. Senti meu coração acelerar como se eu estivesse apaixonada – mas sem a parte boa -, minha boca ficar seca e pensei: “não é justo. ela ainda não foi embora”. Lorena se aproximou do meu rosto. Como se tivesse ouvido meus pensamentos. Senti seus dedos fazendo carinho na minha nuca e sua boca se encostando no meu ombro. Recebi um beijo demorado e tudo fez sentido. Não era justo gastar mais nem um minuto daquele dia sentindo medo de coisas que não poderiam ser resolvidas.

Recebi uns beijos nos olhos, no canto da boca, no cólo – perto dos mamilos – e perto do umbigo. Senti um lapso de tesão. Fiz um sinal para que ela me chupasse porque mal conseguia falar. Minhas pernas se aqueceram como se tivessem que bombear sangue para todo o corpo. Os meus olhos franziam conforme meu corpo se contorcia e a minha calcinha – que ainda estava no meu corpo – estava molhada como se tivessem a colocado num balde de água.
Lorena continuava beijando, lambendo e, às vezes, mordendo levemente partes do meu corpo até chegar no meu quadril. Então, abriu minhas pernas e me beijou por cima da calcinha. Segurei sua cabeça com as mãos e pressionei contra mim. Ainda por cima da calcinha, parou de beijar e começou a lamber e chupá-la. Tive a impressão de que meu corpo inteiro ia derreter através da minha vulva.

– Por favor, deixa eu ter um orgasmo em você. – pedi

Lorena fez que sim com a cabeça, tirou minha calcinha e me virou, trocando de posição. Sentei em sua boca e mexi meu quadril pra frente e para trás. A cama nos acompanhou com os barulhos e eu tive uns cinco orgasmos ou um orgasmo de quinze minutos. Desci até encostar minha cabeça no seu coração e ali seguimos a lista de desejos sem medo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Jura?

Posted: October 28th, 2021 | Author: | Filed under: himen elastika literatura erótica anti-pornográfica | Tags: , , , | Comments Off on Jura?

(DRAMA/conto erótico)

 

“Não sei se eu gosto mais tanto de mim quando estou com você. Gosto mais de quando não estamos juntas e outros assuntos me abordam pelas calçadas da cidade enquanto eu caminho para que eu não precise pensar em você. Como impeditivos produtivos. Me apego a qualquer conversa aleatória que me distraia e faça com que eu me sinta viva de uma forma diferente a que eu me sentia antes contigo. Gostaria de desejar a sua felicidade hoje, mesmo após um tempo de despedida, mas ainda sinto um sentimento contrário à saudade de você. Sinto muito por ter me contatado.”

Juro que essa foi a última mensagem que gastei minutos escrevendo e enviando por e-mail. Por e-mail e para a minha ex. Nem sei o que é mais antigo e inadequado nessa situação. Infelizmente, ao receber uma mensagem que, por mais estranho e simbólico que pareça foi parar na caixa de spam, não resisti à respondê-la. Achei que apagá-la não a apagaria da minha cabeça mesmo e tinha razão. Senti um orgulho e uma grande decepção por mim.

Quando saímos de relacionamentos decadentes ou abusivos podemos nos sentir avessas ao amor por um tempo e com amor não me refiro à paixões românticas construídas por casais modelos monogâmicos. Amor no sentido de gentilezas como um tempo. Se vivenciamos curtos ou longos períodos de negligência amorosa, lidar com a presença do amor se torna difícil.

Depois que Amanda e eu terminamos, não consegui aceitar abraços por três meses porque ele me abraçava sempre após nossas brigas, quer dizer, as brigas que ela criava. Não consegui avisar do término para os meus amigos. Eles que descobriram. Não conseguia mais escrever nada que não fosse angustiante ou mórbido. Minhas dores se tornaram minhas amigas e era somente com elas que eu podia conversar. Quando visitei minha mãe, logo em seguida, suas mãos tocaram o meu cabelo. Eu me assustei e comecei a chorar. Era como se meu corpo tivesse se configurado para identificar qualquer aproximação afetiva como uma ameaça.

Nem preciso falar que foi impossível até me imaginar em outra relação por meses. O medo de me assustar com afeto preenchia a minha cabeça e tornou meus dias um pouco frígidos. Para não afundar no colchão da minha cama, me obriguei a frequentar alguns lugares que se pareciam com quem eu era antes de conhecê-la. Deixando um pouco de lado experiências muito novas ou aparentemente muito festivas. A festividade obrigatória era uma característica dela. Voltei a frequentar bibliotecas, shows, amigas e a casa da minha família. Foi muito importante retornar a esses lugares e ouvir “que bom revê-la” em outras palavras. Os abraços começaram a ser mais desejados por mim e a fazerem mais sentido. Minhas amigas se tornaram realmente minhas amigas de novo e a minha dor ficou na posição de dor. Sem misturar os prazeres e as feridas. Pude sentir, de verdade, que o tecido do meu corpo se regenerou e finalmente me senti pronta para abrir mão um pouco das experiências antigas e partir para os desejos novos.

Perto do meio do ano, uma amiga me ligou e pediu para que eu fizesse um juramento de que não adiaria mais o meu encontro com o amor. Ela tinha perspectivas bonitas sobre espiritualidade, filosofia e vida. Amor não era uma pessoa que eu encontraria em algum momento na vida. Amor era, inclusive, uma justificativa para parar de procurar pela “pessoa a amada” e tentar me tornar uma pessoa amável para mim. Conversamos sobre marcar de marcar de marcar de tentar nos encontrar, até que nos encontramos. Quando a vi, fiquei feliz por ainda ter me reconhecido nela e por ela ter se reconhecido em mim. Nós sempre tivemos o costume de dizer que nos amamos, que somos amantes. Meu amor por ela nunca foi uma dúvida como foi o meu amor por mim em alguns momentos. Em dias piores, meu amor por mim já foi uma dívida e hoje até sobra. Passamos o dia juntas na região da República para carregar nossas raízes com lembranças da nossa juventude. Antes de nos despedirmos, ela me disse que tinha conhecido alguém que se parecia comigo.

– Jura? – perguntei curiosa.

– Juro. Ela é o contrário de mim, assim como você. Tem os pés mais presos no chão do que eu e coragem suficiente para manter as pessoas próximas à ela seguras. Sem contar que é linda e vem me visitar nesse final de semana, lá em casa. Eu acho que você adoraria conhecê-la.

Na manhã do final de semana fez sol como eu pedi e eu me preparei para ir, cumprindo o juramento. Botei uma calcinha vermelha e brincos de anéis de saturno. Fazia tempo que não passava tinta nos olhos e que não menstruava no final do mês. Minha amiga disse que nosso encontro também fez com que menstruássemos juntas. Gosto de acreditar na coincidência da sincronização menstrual. Desci correndo as escadas quando percebi que já estava na hora e que minha amiga que viria me buscar já tocava a campainha.

Ainda ajeitando os brincos, abri a porta e me surpreendi com um sorriso que não conhecia.

– Marcela me mandou buscar você. Tem bastante gente estranha na casa dela e ela não quis deixar eles sozinhos. Você sabe como ela é, né? Conhece melhor que eu.

Continuei em silêncio sem saber quem era.

– A propósito, eu sou a Íris, amiga da Marcela. A gente não se conhece mas ela me falou que você ficaria muito brava se eu me atrasasse então vim correndo o mais rápido que eu pude.

– Íris, claro. Marcela me falou de você. Não tinha reconhecido.

Íris continuou sorrindo de leve para mim enquanto meu coração acelerou batidas o suficiente para eu perceber que alguma coisa nela tinha despertado algo em mim.

– A gente já pode ir? Minha moto tá ali do outro lado da rua. Prometo que não te deixo cair.

E fomos. Íris tinha o pescoço à mostra e uma jaqueta típica das motoqueiras lésbicas. Seus olhos eram grandes e ela não tinha nada no rosto que fosse artificial. Seu cheiro era de alguma colônia que com certeza tinha sido formulada para hipnotizar mulheres como eu. Ela me disse que eu podia apoiar os meus braços nela. Fiquei desconcertada por estar tão perto. Passamos o caminho conversando sobre nossa amiga em comum e as pessoas estranhas que encontraríamos na festa.

– Antes de sair para te buscar, tinha um cara cuidando do som que queria botar umas músicas dele pra gente ouvir enquanto umas meninas tavam dançando algumas músicas nostálgicas dos anos 2000. Tenho certeza de que escapei de ver uma briga rs. – disse Íris.

– E você tava do lado de quem?

– Das meninas, é claro.

Na porta da casa de Marcela, Íris e eu nos olhávamos e ríamos sobre o que poderíamos esperar da festa. Marcela abriu a porta e me deu um abraço e disse baixinho:

– Sabia que ia gostar dela.

Fiquei vermelha por dentro mas disfarcei o suficiente para pelo menos uma delas não notar. Íris me convidou para tomar uma bebida e me levou pela mão. Enquanto caminhávamos pelas pessoas desconhecidas, de tempos em tempos ela virava a cabeça e me olhava com carinho. Na cozinha, nos servimos e encostamos no balcão e ela me perguntou:

– Como eu sei quando você tá atraída por alguém?

– Quando o alguém é parecido com você, fica fácil de perceber.

Ela me deu um abraço antes de me dar um beijo. Minha temperatura corporal, com certeza, subir para 700º e eu poderia facilmente competir com o sol quem estaria mais quente. Nos olhamos fixamente durante uns segundos. Dizem que fazer esse exercício aumenta o amor, se ele já existir. Fiz um carinho entre seus olhos e suas orelhas. Nos beijamos durante as músicas mais e menos pedidas. Nossas mãos alternavam entre nossas nucas, barrigas, braços, bochechas, cabelos e virilhas. Ela interrompeu nosso beijo para dizer que estava sentindo uma vontade absurda de transar. Eu disse que adoraria que ela conhecesse a minha casa e que podíamos sair de fininho. E saímos. Andar de moto com ela intensificou a sensação. Passei o caminho todo sentindo um orgasmo vindo e o meu cabelo ficando bagunçado com o vento. Olhei para ela no retrovisor e seu olhar pra mim me deixou mole. Senti como se estivessem derramando um copo cheio de água na minha calcinha devagar. Entramos em casa desesperadas para transar uma com a outra. Deitamos no sofá e nos beijamos mais uma vez. Tive que levantar para fechar a porta. Ela foi até mim e me apertou contra a parede. Tirou os meus sapatos e a minha calça. Botou a calcinha para o lado, ergueu minha perna e me tocou seus dedos. Tive um orgasmo em uns dois minutos. Respirei fundo e pedi para que fizesse de novo. Agora eu e ela, no sofá, ao mesmo tempo. Tiramos as roupas todas e nos tocamos juntas. Não gozamos ao mesmo tempo mas uma e depois a outra. Repetimos. Ela pediu para que eu dobrasse os joelhos, com a barriga para baixo, “de quatro” para me chupar. Depois sentou na minha boca e sentiu a minha língua. Uma hora nossos corpos precisaram de água. Também  fiz um café. Ela me disse que gostou de como eu organizava as coisas da minha casa, eu disse que ela podia ficar para dormir.


O corpo em que coube uma vagina – Conto erótico

Posted: March 14th, 2021 | Author: | Filed under: himen elastika literatura erótica anti-pornográfica | Tags: , , , , , , , , | Comments Off on O corpo em que coube uma vagina – Conto erótico

“Aguardente

para aguardar você.

Do “ardente” me faltou o “ar”

quando eu reparei

que já seria

um corpo em que coube uma vagina

e que sabia o que viria.”

Esse texto virou notícia na cidade em que viviam Camila e suas amigas.  Cada pedacinho de palavra que compunha as frases esquentava o rosto das leitoras, mas também dos denunciadores seguintes. As pessoas que leram e se incomodaram, relataram seus incômodos com a palavra vagina e com a hipótese do texto ser de caráter lésbico.

Mas como sempre se imagina, muitas mulheres e meninas da cidade se encantaram com o que diziam aquelas palavras coladas nas paredes de diversos lugares da cidade como lambe-lambes.

Camila era uma delas. Encontrou com Cecília ao meio-dia para discutirem uns textos da faculdade, mas em um momento de distração, Cecília soltou o que pensava sobre o texto que viralizou:

– Não sei quem fez porque não tem autoria mas poderia dizer que tem a cara de qualquer uma de nós.

– Com certeza, eu não seria tão criativa. – disse Camila.

– Será que não? Já tentou sentar pra escrever uns lances desses? – disse Cecília.

– Não… Mas acho que prefiro ler as reflexões das outras e achar coisas que me tocam. – disse Camila.

Voltaram aos textos acadêmicos por mais 10 minutos, até que se questionaram:

– O que será que ela quis dizer com isso? – Cecília.

– Isso o quê? – disse Camila.

– “um corpo em que coube uma vagina”… – disse Cecília.

– Entendi que ela quis dizer que ter uma vagina não é simples. Ganhamos e perdemos muitas coisas quando nascemos com uma e por isso não pra  qualquer um. – disse Camila.

– E você gosta de ter uma? – disse Cecília.

– Hoje sim. Mas ainda acho difícil. Só que além de achar difícil, acho legal, sensual, bonito e inspirador. Tá aí a diferença. – disse Camila.

Camila e Cecília se conheceram logo no início da faculdade de arquitetura em grupos que discutiam sobre diversos feminismos. Reivindicavam sempre o quanto ter uma vagina afetava a vida de algumas pessoas e o quanto ter um pênis trazia mais “poder” à outras. Esses debates eram difíceis. Depois de um tempo, eles se tornaram impossíveis e praticamente inexistentes, pelo menos na academia.

Na vida fora da universidade – e no rolê sapatão principalmente – as vaginas eram observadas, discutidas e admiradas o tempo todo. Às vezes como musas, outras como objeto de estudo coletivo ou como um assunto recorrente.

Cecí tinha algumas tatuagens de buceta nos braços e nas costas. Camila preferia que os desenhos de buceta ficassem fora de seu corpo e pintava-os nas paredes das ruas. Cecí e Camila compartilhavam o tempo todo desenhos, projetos, textos ou outras expressões artísticas que envolvessem bucetas. Às vezes compartilhavam suas próprias bucetas, uma com a outra.

Apesar de não ser muito frequente, as duas tinham um acordo de relação sexual casual que mantinham a anos. Teve início quando, depois de alguns meses de amizade, Camila sentiu uma tensão sexual muito grande entre elas e compartilhou com Cecí que correspondeu a sensação. Por vários motivos, decidiram não entrar num relacionamento monogâmico mas também acordaram em não ignorar essa atração sexual e em dar chances à isso.

A tensão sexual entre as duas se intensificava quando algumas coisas aconteciam em específico. Geralmente em períodos de mais criatividade artística – das duas partes – a atração sexual era praticamente inevitável. Sexo seria uma continuidade artística e uma forma de demonstrar carinho.

Dias depois de quando se encontraram para lerem os textos da universidade, Cecí ligou para Camila para contar sobre uma ideia de um projeto: “Vulgo Vulva”, que misturaria literatura com artes e feminismo. As duas animaram de entrar e produzir. Passaram mais de 1 hora combinando os detalhes por telefone, até que Cecí ia desligar e Camila interrompeu o tchau:

– Cecí, porque não vem aqui pra gente se pegar um pouquinho? Sabe como eu fico quando você me desperta pras artes. – disse Camila.

– Pensei o mesmo. Mas como tá aí na sua casa? Não tava recebendo umas amigas em casa? – disse Cecília.

– Estou, mas elas não ligam. Onde cabe uma buceta, cabem duas, três… – disse Camila.

Naquele mesmo dia, se encontraram. Cecí trouxe um buquê de flores. Camila estranhou e riram juntas. Decidiram cozinhar juntas pra lembrar os velhos tempos – ou os encontros anteriores. Nenhuma das duas cozinhava bem mas Camila fazia com que o ato de cozinhar parecesse mais bonito. Estavam ouvindo Luisa Maita e uma playlist gigantesca de cantoras que gostavam em comum. O dia foi entardecendo e luz do sol que estava forte, baixou um pouco.

– Gosto de quando a luz fica assim. – disse Camila.

– Gosto de você. – disse Cecí.

Camila se aproximou de Cecí, fez carinho em seu braço com a ponta dos dedos enquanto olhava para os seus seios. Cecí levantou seu rosto com os dedos e as duas se olharam e deram um sorriso frouxo. O rosto de Camila começou a esquentar quando Cecí chegou mais perto do seu corpo e entrou com os dedos em seu cabelo. Sua respiração ficou mais pontual. Respirava mais forte quando a boca de Cecília encostava em seu pescoço ou quando os dedos dela passavam em seus mamilos por cima da blusa. As duas tiraram as camisetas por conta do calor que elas mesmo provocaram. Com os mamilos ainda duros, Camila pediu um beijo e um abraço apertado. Assim o fizeram durante 5 ou 10 minutos.  Agora além dos rostos corados e os mamilos duros, as duas podiam sentir a lubrificação das suas vaginas e a tensão sexual aumentando.

Cecí colocou um dos dedos de Camila em sua boca. Depois dois… três. Ela sabia o quanto isso a deixava excitada e o quanto era prazeroso pra ela sentir a textura dos dedos que logo estariam dentro da sua vagina. Camila pegou os dedos molhados de saliva e massageou a parte de fora da vulva. Sentiu o clitóris inchado e as pernas começando a tremer. Esperou um pouco e enfiou dois dedos na vagina. O polegar permaneceu fora, massageando o clitóris em movimentos coordenados. Com a outra mão, sentia o seu rosto quente, seus lábios  e os seus seios. Mantendo todos esses movimentos até perceber um orgasmo. Cecí respirou fundo e depois da alma voltar para o corpo, disse:

– Dá pra gente fazer mais uma?

 

 


Socorristas (Conto)

Posted: September 3rd, 2020 | Author: | Filed under: himen elastika literatura erótica anti-pornográfica | Tags: , , , , , , | Comments Off on Socorristas (Conto)

Invadiram o palanque da Câmara dos Deputados na quinta-feira à noite após o expediente dos políticos nas reuniões de sempre que não decidem nada. Guardaram suas mochilas nas cadeiras, dormiram juntas enquanto outras viraram a madrugada repassando o plano de ação da manhã seguinte. Foi, com certeza, a primeira vez que tantas mulheres brasileiras estiveram no local. Claro que só aconteceu através de uma invasão. O efeito foi inquestionável. As câmeras de segurança foram hackeadas e segurança masculina foi fácil de enganar.

A primeira notícia jornalística que denunciou a ação só ocorreu após 16 horas de ocupação. Isso foi um recorde que demonstrou o potencial de organização das envolvidas. Até este momento, as paredes já estavam todas riscadas e pixadas com mensagens escritas ou coladas de protesto. A última proposta política que estaria rondando pela Câmara não poderia ser aceita.

– A minha vontade era a de invadir a casa de cada um deles e fazer o mesmo… o mesmo que fizemos aqui. – disse Sandra observando as paredes.

-Haja tinta! – Cintia deu um suspiro de sorriram.

– Sabe que eu senti falta dessa adrenalina percorrendo meu corpo? Já experimentei muitas sensações muitas sensações mas poucas como essa. – disse Sandra.

– Sim. Não tem paixão ou viagem para o interior que faça bater assim como essa experiência bateu pra mim. – disse Cintia.

Cintia e Sandra eram socorristas, ou seja, mulheres que acompanhavam ou facilitavam abortos clandestinos em contextos criminalizadores. Pensaram, diversas vezes, em fugir do Brasil pra outros lugares mas ir embora é difícil, principalmente , quando ir embora parece fugir ou desistir de casa. Então, nunca foram.

Pela manhã, as responsáveis pela ação organizaram um café e uma roda para compartilhar algumas impressões.

– Cansei de viver nesse contexto de guerra! – uma das mulheres da roda afirmou com o rosto preocupado.

– Foi uma delícia quebrar algumas cadeiras e fazer tudo. Tenho medo do que farão quando descobrirem mas mais medo ainda do que poderá ser feito, se pá por vingança, em nome da lei. – outra mulher da roda.

– Entendo que todas sintam medo, entendo o medo de vocês mais do que qualquer outra coisa. Só não entendo e não aceito o silêncio que estávamos vivendo lá fora antes que fizéssemos algo. Então, hoje eu prefiro viver o orgulho do que o medo. – Cintia falou enquanto saía da roda.

– Às vezes, esses espaços que criamos enchem a gente de medo, né? – Bárbara diz se aproximando.

– Muito. Queria que as mulheres pudessem sentir e perceber mais do que o medo. Sei lá, raiva, um pouco de orgulho ou sensação de satisfação seriam muito mais úteis. Mas entendo que não são emoções simples de serem sentidas pelas mulheres. A gente vive com a cara enfiada numa bacia de culpa e medo. – Cintia lamenta.

As relações construídas em ações políticas feministas são sempre muito complexas. Depois de superadas as barreiras da rivalidade feminina, a pedra no caminho  seguinte é dificuldade das mulheres feministas de se reconhecerem como agentes de ações certas, boas ou úteis.

Aquelas que não dormiram à noite , se prepararam para dormir pela manhã. Cintia, uma delas, arrumou um colchão e deitou a cabeça que precisava de uns minutos de calma. Lembrou de sua companheira que havia ficado em casa. Pensou no calor do seu corpo que seria ideal para que pudesse dormir mais tranquila. Pensou num abraço, em seus seios encontrando os seios dela, os braços enrolados nos cabelos curtos e depois em um beijo. Quase atingindo todos os 5 sentidos. Pensar assim trouxe um pouco de calma, apesar dos barulhos das discussões políticas ao fundo. Resolveu aproveitar a resposta do seu corpo à isso: a imaginação como instrumento anti-stressivo. Cintia imaginou que sua mão pudesse ajudar a tornar o exercício mais real. Caminhou os dedos pelo queixo, ainda com os olhos fechados, passou-os lentamente pelos lábios inferiores da boca, depois pelos lábios internos da vulva com a outra mão e abriu os olhos. Estava sozinha no espaço em que dormia. Ajeitou seu  lençol por causa do frio, esticou as pernas para poder contorcê-las durante o orgasmo e abaixou a calça até metade da perna. Pensou em Bela, sua companheira de novo, e imaginar seu rosto causou uns arrepios. Mordeu o dedo por um instante como fazia sempre que estava excitada. Sentir os pêlos crescidos da buceta com a mão inteira, depois com os dedos e, por fim, com o pulso. Gostava de como conseguia se masturbar girando o pulso no clitóris. Demorava um pouco mais do que quando fazia com os dedos mas Cintia curtia quando demorava. Bela, quando a chupava, dedicava uns dez minutos para cada pedaço, cada lábio, cada lado, cada ponto do território do corpo mas, se quisesse,  poderia provocar um orgasmo em 2 minutos. Às vezes, o corpo é simples. Foi assim que Cintia teve um ou dois orgasmos pensando em sexo oral. Respirou tranquila, lembrou que não poderia falar com Bela durante a ação e se levantou. Foi até onde Sandra dormia e perguntou:

– Posso botar meu colchão perto de você?

Sandra acenou dizendo que sim e dormiram. Minutos atrás, ela também teve um momento de masturbação reflexiva. A companhia de uma para outra fez com que dormissem.


Rajados

Posted: August 26th, 2020 | Author: | Filed under: himen elastika literatura erótica anti-pornográfica | Tags: , , , , , , | Comments Off on Rajados

– Você transa com os gatos olhando?

Na casa onde moravam, o espaço era perfeito para 1 gato. Tinham 3. Assim cada uma poderia cuidar de um e dividir os cuidados. No início até pensaram em não adotar nenhum e assim construir uma das poucas casas de lésbicas sem gatos da história mas Fernanda achou um na rua, trouxe pra casa e não tornou mais essa ideia possível. Hoje em dia é até mais divertido entre elas. Sempre estão acompanhadas delas mesmas ou dos felinos. A casa sempre tem uma companhia especial.

Os gatos não costumam dormir dentro de seus quartos mas, na maioria das vezes, as portas permanecem entreabertas e eles caminham escondido em busca de cantinhos das mesas ou de cortinas ou objetos macios. Por isso, num sábado cozinhando, Camila perguntou à Amanda se ela já tinha se incomodado com a presença dos gatos enquanto ela transava.

– Cê sabe que eu não tenho transado muito, né? (riu) Mas, sei lá, no geral acho que não me incomoda, que eles não fixam olhando fixamente como dizem por aí e que talvez nem liguem para o que tá rolando. – disse Amanda.

– Sei… Mas perguntei porque esses dias tava deitada com Carol, a gente nem tava transando exatamente mas estávamos num momento de carinho, de repente, o Rajado (gato) pulou no travesseiro e subiu na minha cabeça. Ele subiu na minha cabeça!! Aí mandamos ele descer, ele desceu mas sentou numa cadeira na frente da cara e ficou olhando pra gente sem piscar. Daí não conseguimos mais. – disse Camila.

– Hahaha! Vocês ficaram com vergonha dele? – disse Amanda.

– Vergonha nada, eu fiquei é com medo do bicho me olhando como se fosse voar em cima de mim. – disse Camila.

– Ai amiga, mas a Carol é encanada assim que nem você? – disse Amanda.

– Então, não sei, será que ela se encana? Vou falar com ela. – disse Camila.

– Fala, bixa! Cês já tão saindo a um tempo, num tão? Às vezes ela nem liga. – disse Amanda.

No dia seguinte, Carol foi visitar Camila, conversaram e riram juntas sobre o misterioso incômodo ou não-incômodo dos gatos. No geral, nenhuma delas ligava tanto mas concordaram que era melhor fechar porta por vários motivos. Carolina tava recente na rotina de Camila e, no começo, as coisas podem ser bem intensas. É muito frequente que uma sinta vontade da outra o tempo todo. As duas dormiram juntas durante uma semana inteira e no primeiro dia ficaram muito próximas. De tardezinha, no sofá, Carol disse:

– Às vezes, eu sinto vontade de entrar dentro do seu corpo pra ver como ele é quente. É uma sensação que fica ainda mais forte quanto eu enfio uns dedos em você ou chupo a sua buceta. Você é toda quente e as partes de dentro que conheço – as paredes da vagina, o cólo, a língua – estão sempre aquecidas. É bom sentí-las quando estou com frio ou simplesmente quando tô em busca de um calor não tão físico, um afeto.

– Gosto muito de você e acho que entendo isso, por mais estranho que pareça rs. Que bom que cê veio e a gente aqui. – disse Camila passando a mão na sua perna.

– Quando você fala assim comigo, tão linda, eu fico tão molhada que, às vezes, tenho a impressão de que vai escorrer pelas pernas e molhar a roupa, o sofá, o chão… – disse Carol.

Depois de conversarem, Carolina guiou a mão de Camila da sua perna para sua boca. Chupou os dedos, um por um, devagar enquanto olhava fixamente nos seus olhos. Percebia olhares de excitação e prazer em Camila que a observava. Beijou os seus dedos, sua mão, o braço inteiro. Passou a língua pelo seu pescoço antes de te dar um beijo. Sorriu de leve e ela retribuiu. Abriu as pernas de Camila aos poucos enquanto a beijava e passou os dedos perto do seu clitóris ainda por cima da calcinha. Deu pra sentir e foi mais fácil de encontrar um ponto gostoso com o tempo e a prática. Movimentou os dedos em formato circular. Camila pediu:

– Vai mais forte.

Quando os movimentos estavam mais rápido e o corpo chegava a ter espasmos, Camila também tocou Carolina com os 4 dedos juntos em formato de “concha”, acariciou os lábios externos, separou-os e tocou o clitóris ao mesmo tempo em que estava sendo tocada. As duas fecharam os olhos pra manter a concentração. Uma respiração atrás da outra. Camila mordeu o lábio e abafou um pouco o gemido enquanto teve um orgasmo. Carol teve em seguida mas não segurou.

Um orgasmo compartilhado chega a ser, quase tão difícil, quanto os orgasmos múltiplos. Mas é sempre bom tê-los.