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“Ovulendas” – Lendas da Ovulação

Posted: September 18th, 2020 | Author: | Filed under: himen elastika literatura erótica anti-pornográfica | Tags: , , , , , , , , | Comments Off on “Ovulendas” – Lendas da Ovulação

– Tô me sentindo  mais atraída por você hoje.

– Acho que é por causa das coisas que tão acontecendo aqui dentro.

– Onde?

– No útero.

E assim flertávamos falando sobre menstruação. Na primeira vez que nos vimos, a famosa conversa-sobre-signos não aconteceu porque gastamos todo o tempo daquela noite contando uma pra outra sobre nossas experiências menstruais. Só depois descobri que ela era libriana com ascendente em leão e as nossas vênus eram iguais: escorpião.

(…)

O nosso primeiro encontro foi numa loja de camisetas no centro. Eu estava lá porque uma camiseta roxa tinha me chamado a atenção e ela, porque morava por ali e tava dando uma volta. Esbarrei – literalmente – nela na sessão de regatinhas pretas e pedi desculpas envergonhada. Ela riu e disse:

– Desculpo se você me fizer um favor.

– O quê? – Perguntei fazendo uma cara estranha.

– Pega aquela regatinha ali no alto pra eu experimentar? Não alcanço ela rs

Fui pegar a bendita e vi que ali naquele cantinho tinham várias estampas incríveis de mulheres da área da música mas também dazartes, da filosofia, da política…

– Eles escondem as camisetas mais legais aqui? Toma a que você pediu. – disse.

– Basicamente isso. Essa loja é antiga e a uns anos atrás uma mulher administrava a maior parte das coisas. Ela que teve a ideia de começar a produzir camisetas com mais caras de mulheres e de outras áreas além da música.  O problema é que acabou não rolando, financeiramente, e os caras que cuidam daqui hoje deixam elas ali onde você encontrou.

– Puxa, mas essas são as melhores camisetas daqui. Até eu quero levar uma. Se você não tivesse me falado eu nunca ia saber… Obrigada.

– Se você não tivesse esbarrado em mim, talvez a gente nunca tivesse conversado. rs

Ficamos uns segundos em silêncio até que eu disse:

–    Sei que pode parecer estranho mas você quer tomar uma cerveja comigo? – fiquei vermelha de vergonha.

– Ah, eu quero. Mas me faz um favor antes?

Fiquei pensando no que podia ser, de novo.

– Você quer que eu pegue outra camiseta pra você?

– Não, haha. Você tem um absorvente pra me dar? Porque acho que desceu pra mim e eu tava despreparada então ia direto pra minha casa, que é aqui perto, mas se a gente for dar um rolê então preciso de um plano b.

– Ih, não tenho. Uso de pano e não tenho nada parecido aqui.

– Também uso mas, às vezes, a gente improvisa com outros, né?  A gente pode comprar no caminho pra algum lugar ou, de repente, podíamos comprar uma brejinhas no mercado e ficar lá em casa mesmo. Que cê acha?

– Topo!

Deu uns 15 minutos do mercado pra casa dela e senti um frio na barriga. No caminho descobrimos os nomes uma da outra, que éramos sapatonas e que no meu ciclo, eu estava ovulando e o dela estava só começando. Chegando em sua casa, ela me convidou pra tomarmos um banho juntas porque estava muito calor. A água gelada escorreu de um jeito muito gostoso em meu rosto. Fechei os olhos pra aproveitar o gosto da sensação e Marina aproveitou meus olhos fechados para me dar um beijo. Lembro da sensação de quase derreter, das pernas ficando bambas e do pescoço ficar quente. De todo modo, meu corpo parecia calmo e confortável com o beijo e com suas mãos que passaram a percorrer o meu corpo. A água não atrapalhou a lubrificação porque, à cada segundo, eu ficava mais molhada. O líquido que caía do chuveiro era liso e rápido, enquanto o que saía do meu corpo era grosso e mais gostoso de deslizar a mão. Do corpo dela saía um pouco de sangue. Marina me virou de costas pra ela, abriu minhas pernas e me abraçou. Tínhamos quase o mesmo tamanho. Ela beijou as minhas costas como se estivesse beijando a minha boca, usou a mão direita pra estimular o meu clitóris apertando como se fosse um botãozinho. Me apoiei na janela porque fiquei com as pernas tremendo e a água continuava escorrendo no rosto e no corpo. Meu clitóris inchou mais e seus dedos se mexeram mais rápido. Quando senti que ia ter um orgasmo, pedi pra tocar mais devagar pra prolongar a sensação. Sempre funciona. Depois do orgasmo, enfiei minha cara na água do chuveiro, ajoelhei e pedi pra chupá-la.

 


Socorristas (Conto)

Posted: September 3rd, 2020 | Author: | Filed under: himen elastika literatura erótica anti-pornográfica | Tags: , , , , , , | Comments Off on Socorristas (Conto)

Invadiram o palanque da Câmara dos Deputados na quinta-feira à noite após o expediente dos políticos nas reuniões de sempre que não decidem nada. Guardaram suas mochilas nas cadeiras, dormiram juntas enquanto outras viraram a madrugada repassando o plano de ação da manhã seguinte. Foi, com certeza, a primeira vez que tantas mulheres brasileiras estiveram no local. Claro que só aconteceu através de uma invasão. O efeito foi inquestionável. As câmeras de segurança foram hackeadas e segurança masculina foi fácil de enganar.

A primeira notícia jornalística que denunciou a ação só ocorreu após 16 horas de ocupação. Isso foi um recorde que demonstrou o potencial de organização das envolvidas. Até este momento, as paredes já estavam todas riscadas e pixadas com mensagens escritas ou coladas de protesto. A última proposta política que estaria rondando pela Câmara não poderia ser aceita.

– A minha vontade era a de invadir a casa de cada um deles e fazer o mesmo… o mesmo que fizemos aqui. – disse Sandra observando as paredes.

-Haja tinta! – Cintia deu um suspiro de sorriram.

– Sabe que eu senti falta dessa adrenalina percorrendo meu corpo? Já experimentei muitas sensações muitas sensações mas poucas como essa. – disse Sandra.

– Sim. Não tem paixão ou viagem para o interior que faça bater assim como essa experiência bateu pra mim. – disse Cintia.

Cintia e Sandra eram socorristas, ou seja, mulheres que acompanhavam ou facilitavam abortos clandestinos em contextos criminalizadores. Pensaram, diversas vezes, em fugir do Brasil pra outros lugares mas ir embora é difícil, principalmente , quando ir embora parece fugir ou desistir de casa. Então, nunca foram.

Pela manhã, as responsáveis pela ação organizaram um café e uma roda para compartilhar algumas impressões.

– Cansei de viver nesse contexto de guerra! – uma das mulheres da roda afirmou com o rosto preocupado.

– Foi uma delícia quebrar algumas cadeiras e fazer tudo. Tenho medo do que farão quando descobrirem mas mais medo ainda do que poderá ser feito, se pá por vingança, em nome da lei. – outra mulher da roda.

– Entendo que todas sintam medo, entendo o medo de vocês mais do que qualquer outra coisa. Só não entendo e não aceito o silêncio que estávamos vivendo lá fora antes que fizéssemos algo. Então, hoje eu prefiro viver o orgulho do que o medo. – Cintia falou enquanto saía da roda.

– Às vezes, esses espaços que criamos enchem a gente de medo, né? – Bárbara diz se aproximando.

– Muito. Queria que as mulheres pudessem sentir e perceber mais do que o medo. Sei lá, raiva, um pouco de orgulho ou sensação de satisfação seriam muito mais úteis. Mas entendo que não são emoções simples de serem sentidas pelas mulheres. A gente vive com a cara enfiada numa bacia de culpa e medo. – Cintia lamenta.

As relações construídas em ações políticas feministas são sempre muito complexas. Depois de superadas as barreiras da rivalidade feminina, a pedra no caminho  seguinte é dificuldade das mulheres feministas de se reconhecerem como agentes de ações certas, boas ou úteis.

Aquelas que não dormiram à noite , se prepararam para dormir pela manhã. Cintia, uma delas, arrumou um colchão e deitou a cabeça que precisava de uns minutos de calma. Lembrou de sua companheira que havia ficado em casa. Pensou no calor do seu corpo que seria ideal para que pudesse dormir mais tranquila. Pensou num abraço, em seus seios encontrando os seios dela, os braços enrolados nos cabelos curtos e depois em um beijo. Quase atingindo todos os 5 sentidos. Pensar assim trouxe um pouco de calma, apesar dos barulhos das discussões políticas ao fundo. Resolveu aproveitar a resposta do seu corpo à isso: a imaginação como instrumento anti-stressivo. Cintia imaginou que sua mão pudesse ajudar a tornar o exercício mais real. Caminhou os dedos pelo queixo, ainda com os olhos fechados, passou-os lentamente pelos lábios inferiores da boca, depois pelos lábios internos da vulva com a outra mão e abriu os olhos. Estava sozinha no espaço em que dormia. Ajeitou seu  lençol por causa do frio, esticou as pernas para poder contorcê-las durante o orgasmo e abaixou a calça até metade da perna. Pensou em Bela, sua companheira de novo, e imaginar seu rosto causou uns arrepios. Mordeu o dedo por um instante como fazia sempre que estava excitada. Sentir os pêlos crescidos da buceta com a mão inteira, depois com os dedos e, por fim, com o pulso. Gostava de como conseguia se masturbar girando o pulso no clitóris. Demorava um pouco mais do que quando fazia com os dedos mas Cintia curtia quando demorava. Bela, quando a chupava, dedicava uns dez minutos para cada pedaço, cada lábio, cada lado, cada ponto do território do corpo mas, se quisesse,  poderia provocar um orgasmo em 2 minutos. Às vezes, o corpo é simples. Foi assim que Cintia teve um ou dois orgasmos pensando em sexo oral. Respirou tranquila, lembrou que não poderia falar com Bela durante a ação e se levantou. Foi até onde Sandra dormia e perguntou:

– Posso botar meu colchão perto de você?

Sandra acenou dizendo que sim e dormiram. Minutos atrás, ela também teve um momento de masturbação reflexiva. A companhia de uma para outra fez com que dormissem.


Rajados

Posted: August 26th, 2020 | Author: | Filed under: himen elastika literatura erótica anti-pornográfica | Tags: , , , , , , | Comments Off on Rajados

– Você transa com os gatos olhando?

Na casa onde moravam, o espaço era perfeito para 1 gato. Tinham 3. Assim cada uma poderia cuidar de um e dividir os cuidados. No início até pensaram em não adotar nenhum e assim construir uma das poucas casas de lésbicas sem gatos da história mas Fernanda achou um na rua, trouxe pra casa e não tornou mais essa ideia possível. Hoje em dia é até mais divertido entre elas. Sempre estão acompanhadas delas mesmas ou dos felinos. A casa sempre tem uma companhia especial.

Os gatos não costumam dormir dentro de seus quartos mas, na maioria das vezes, as portas permanecem entreabertas e eles caminham escondido em busca de cantinhos das mesas ou de cortinas ou objetos macios. Por isso, num sábado cozinhando, Camila perguntou à Amanda se ela já tinha se incomodado com a presença dos gatos enquanto ela transava.

– Cê sabe que eu não tenho transado muito, né? (riu) Mas, sei lá, no geral acho que não me incomoda, que eles não fixam olhando fixamente como dizem por aí e que talvez nem liguem para o que tá rolando. – disse Amanda.

– Sei… Mas perguntei porque esses dias tava deitada com Carol, a gente nem tava transando exatamente mas estávamos num momento de carinho, de repente, o Rajado (gato) pulou no travesseiro e subiu na minha cabeça. Ele subiu na minha cabeça!! Aí mandamos ele descer, ele desceu mas sentou numa cadeira na frente da cara e ficou olhando pra gente sem piscar. Daí não conseguimos mais. – disse Camila.

– Hahaha! Vocês ficaram com vergonha dele? – disse Amanda.

– Vergonha nada, eu fiquei é com medo do bicho me olhando como se fosse voar em cima de mim. – disse Camila.

– Ai amiga, mas a Carol é encanada assim que nem você? – disse Amanda.

– Então, não sei, será que ela se encana? Vou falar com ela. – disse Camila.

– Fala, bixa! Cês já tão saindo a um tempo, num tão? Às vezes ela nem liga. – disse Amanda.

No dia seguinte, Carol foi visitar Camila, conversaram e riram juntas sobre o misterioso incômodo ou não-incômodo dos gatos. No geral, nenhuma delas ligava tanto mas concordaram que era melhor fechar porta por vários motivos. Carolina tava recente na rotina de Camila e, no começo, as coisas podem ser bem intensas. É muito frequente que uma sinta vontade da outra o tempo todo. As duas dormiram juntas durante uma semana inteira e no primeiro dia ficaram muito próximas. De tardezinha, no sofá, Carol disse:

– Às vezes, eu sinto vontade de entrar dentro do seu corpo pra ver como ele é quente. É uma sensação que fica ainda mais forte quanto eu enfio uns dedos em você ou chupo a sua buceta. Você é toda quente e as partes de dentro que conheço – as paredes da vagina, o cólo, a língua – estão sempre aquecidas. É bom sentí-las quando estou com frio ou simplesmente quando tô em busca de um calor não tão físico, um afeto.

– Gosto muito de você e acho que entendo isso, por mais estranho que pareça rs. Que bom que cê veio e a gente aqui. – disse Camila passando a mão na sua perna.

– Quando você fala assim comigo, tão linda, eu fico tão molhada que, às vezes, tenho a impressão de que vai escorrer pelas pernas e molhar a roupa, o sofá, o chão… – disse Carol.

Depois de conversarem, Carolina guiou a mão de Camila da sua perna para sua boca. Chupou os dedos, um por um, devagar enquanto olhava fixamente nos seus olhos. Percebia olhares de excitação e prazer em Camila que a observava. Beijou os seus dedos, sua mão, o braço inteiro. Passou a língua pelo seu pescoço antes de te dar um beijo. Sorriu de leve e ela retribuiu. Abriu as pernas de Camila aos poucos enquanto a beijava e passou os dedos perto do seu clitóris ainda por cima da calcinha. Deu pra sentir e foi mais fácil de encontrar um ponto gostoso com o tempo e a prática. Movimentou os dedos em formato circular. Camila pediu:

– Vai mais forte.

Quando os movimentos estavam mais rápido e o corpo chegava a ter espasmos, Camila também tocou Carolina com os 4 dedos juntos em formato de “concha”, acariciou os lábios externos, separou-os e tocou o clitóris ao mesmo tempo em que estava sendo tocada. As duas fecharam os olhos pra manter a concentração. Uma respiração atrás da outra. Camila mordeu o lábio e abafou um pouco o gemido enquanto teve um orgasmo. Carol teve em seguida mas não segurou.

Um orgasmo compartilhado chega a ser, quase tão difícil, quanto os orgasmos múltiplos. Mas é sempre bom tê-los.

 

 

 

 


Dedilatex

Posted: July 31st, 2020 | Author: | Filed under: himen elastika literatura erótica anti-pornográfica | Comments Off on Dedilatex

Marcamos às 18hr. Conheci no Tinder apesar de já ter visto. Difícil conhecer alguma lésbica que alguém já não conheça por aqui. Essa rede às vezes é massa. Ajuda a evitar mal-entendidos ou os causa. Não dá pra ter tudo.

Pra não atrasar saí mais cedo. Pra não morrer de nervoso cheguei às 15hr. Assim dá pra conhecer o espaço, trabalhar o corpo, conversar com outros, se adaptar ao ambiente. No fim, nada adianta muito. Recebo um aviso que me dá calafrios: “cheguei no metrô”. Ainda sinto que vou morrer de nervoso. Me permito dizer que estou apaixonada um pouco. Reconforta. Assim que ela chegar, eu disfarço o calor que tô sentindo falando sobre qualquer outra coisa.

 

– Faz tempo que você chegou?

Falou pelas minhas costas. Me virei e fiquei apenas olhando sem falar.

 

– Te assustei? Se soubesse que já tava aqui tinha vindo antes. Tava perto.

Parei um pouco de só observar e finalmente respondi:

 

– Ah, eu sempre chego muito mais cedo. Faz parte do plano.

– Entendi. E aí no seu plano diz que a gente faz o que agora?

 

Lembrei que o combinado pra hoje era uma infinidade de coisas. Tínhamos um sarau aberto, um show que as duas queriam, algumas ruas pra só ficar andando… O combinado tinha sido “ver na hora o que rolar”. Todas opções pareciam ótimas mas o show faria barulho demais pra ouvir ela responder o meu interrogatório discreto de primeiro encontro, o sarau nos obrigaria a apresentar algo e o frio na barriga seria outro e as ruas não pareciam lá uma boa opção.

 

– Tem um lugar por aqui que não é nada do que combinamos.

– Haha! Então me mostra?

 

Atravessamos a rua e sentamos numa calçada, perto da onde sempre se encontram gente mais jovem e alguns músicos ou ativistas. Tem dia que é bom, tem dia que é irritante de leve. Ignorando isso, a vista pra uma parte da cidade é a melhor.

Uma cerveja pra cada uma. Descobri o mapa astral, o nome dos gatos e das irmãs mais novas. Não respondo muito pra não contar de vez tudo. Senti a temperatura do corpo baixar e ficar na temperatura-conforto. Podemos dar as mãos sem pedir e sem incomodar. Ainda não aconteceu um beijo. Entre alguns assuntos fica um silêncio, talvez seja o momento. Mas logo entramos em outro.

 

– Você costuma fazer sexo casual?

– Nos últimos anos, é só o que tenho feito. – ri.

– Pode crer. Circunstâncias da vida. Fiquei assim por uns anos também.

– E como se sente?

– Ah, acostumei. Não é tão legal depois de um tempo mas, às vezes, me diverte. Tem encontros que não precisam acontecer sempre mesmo. Precisam acabar antes.

– Tem dias que eu odeio e tem dias que acho gostoso. Então, aproveito o tempo e a saúde que ainda tenho pra isso.

– Sim. Me preocupa a saúde. Agora. Com a cabeça de hoje. Tento não pilhar demais pensando nos riscos enormes de se relacionar. Senão, nem faria.

– Sabe que não tô acostumada a discutir isso? Quer dizer, eu me cuido do que jeito que acho ideal mas a maioria das minhas parceiras nunca trocaram essa ideia. A saúde das sapatonas fica num limbo profundo. Tem que cavar pra chegar.

 

Conversamos um tempo mais sobre tudo. Não tinha mais certeza se nos beijaríamos. Será que que tinha esquecido? Estava um pouco mais tarde e nós percebemos porque alguns grupos dispersaram. Chega uma hora em SP em que você tem que decidir se vai para o metrô ou não.

 

– Quer ir pra minha casa continuar conversando sobre saúde sexual?

Rimos. – Desculpa ter feito isso virar uma consulta.

– Não desculpo porque gostei. Continuaria aqui mas se a gente não se ligar vamo ficar na rua. Pensei da gente ir pra minha casa mesmo porque lá dá pra trocar essa ideia até cansar, dormir, comer, se pá transar. Tô aberta.

 

Fomos. Tive vontade de mandar mensagem prazamigas no caminho dizendo que a ideia de conversar com as parceiras sobre sexo, prevenção e etc não é o monstro social que criamos.

A casa tinha umas plantas grandes e pequenas na entrada, nos corredores e dentro. Ela me disse como gostava especialmente de algumas e como outras eram básicas pra tudo que precisava. Camomila pra irritações leves. Na vagina ou na cabeça. Alecrim pra crescer os pêlos que não retiramos. Barbatimão pra feridas físicas, sem metáforas. Canela com vinho é afrodisíaca.

 

– Significa que vai me dar vontade de transar com você?

– Sim. Leva um tempinho pra preparar. Teria que ter sido feito antes.

– Que pena.

– Ainda bem que já preparei.

– Haha! O que te fez preparar antes?

– O primeiro encontro que teria com você.

 

Um copo pra cada uma. Senti a temperatura do corpo indicar tesão. Nossos corpos se aproximaram. Tem uma música que toca na minha cabeça que estávamos ouvindo na calçada daquela praça. Combina com os cabelos que coloco pra trás quando nos beijamos. Perfeito o cenário. Tentamos ir pro quarto, parando em praticamente todos os cômodos e cantos do caminho. Um beijo afrodisíaco em cada pedaçinho. Na cama, deitamos uma ao lado da outra. Nos olhamos enquanto cada uma tira a própria roupa rápido e rimos. Às vezes, é bom passar 40 minutos se beijando. Ela me pede um minuto, pega uma camisinha masculina e corta de um jeito que vira uma mantinha. Pede pra me chupar. Coloco uma almofada no quadril e abro as pernas ao máximo. Trago sua cabeça pra perto e fecho os olhos. Preciso de outra almofada pra não gemer alto. Ela faz um sinal com a cabeça dizendo que não precisa. Antes de chegar aqui, conversamos sobre como gozar e gemer são complementares. É melhor quando se pode soltar e se permitir ser sensível. A língua continua no mesmo ritmo. A minha respiração é que se descontrolou e que o meu corpo automaticamente contraiu as pernas.

 

– Afrodisíaca é você.


(zine) “embarazoso: pequena trajetória do aborto no brasil”

Posted: July 28th, 2020 | Author: | Filed under: antropologia autonoma, antropologiaz | Tags: , , , , , , | Comments Off on (zine) “embarazoso: pequena trajetória do aborto no brasil”

 

EMBARAZOSO é uma zine produzida em julho de 2020, em meio à uma pandemia mundial. Através de reflexões antropológicas e pesquisas bibliográficas, foi criada uma pequena linha do tempo do aborto no nosso país.

Para chegar à essas conclusões, visitamos não só artigos científicos feitos por pesquisadores em universidades mas também – e principalmente – zines, blogs, entrevistas e conteúdos não-acadêmicos. Sabemos que há pouca pesquisa sobre aborto no Brasil por falta de interesse estatal nisso e as pesquisas que têm muitas vezes abordam a questão dentro da norma que as universidades pedem. Conteúdos não-acadêmicos fogem à norma.

Esta zine pretende ser mais uma dessas produções que fogem à norma porque, apesar de ter sido escrita por acadêmicas e se basear em instrumentos de pesquisa especialmente acadêmicos, ela ultrapassa os limites nos quais param os artigos científicos na maioria das vezes.

A zine pode ser acessada, citada, utilizada e distribuída gratuitamente:

embarazoso zine(2)


Cumbia Del Inferno

Posted: July 8th, 2020 | Author: | Filed under: himen elastika literatura erótica anti-pornográfica | Tags: , , , , , | Comments Off on Cumbia Del Inferno

– Melhor fazer aqui ou em outro lugar?

– Ah, cê sabe que pra mim o melhor lugar é a casa. Sempre. Sem contar que aqui a gente se protege do tédio, caso ele apareça; se protege de qualquer climão que possa surgir e de todas as outras coisas possíveis.

– Tá. Então vou convidar só quem eu acho que vem mesmo. Você vai chamar todas as suas amigas?

– Nossas amigas são as mesmas rs

Uma parte só. Mas tenho que admitir que depois de que decidimos morar juntas isso ficou mais intenso. As nossas amigas são as mesmas. Como ela mesma disse. Facilita em partes porque a lista é uma só pras festas mas quando se trata de socorro ou de consolo, a lista também é uma só. É a mesma.

Não estudamos juntas nem nos conhecemos no trabalho. As amigas realmente vieram de locais diferentes mas na comunidade sapatão a integração é rápida e quando fui perceber os círculos já tinham se misturado. Sem contar que, algumas já haviam se relacionado com outras como já estamos acostumadas.

Hoje ficou decidido que iríamos apresentar a casa e o “viver juntas” pra todas. A gente também decidiu não casar e este seria o momento que substituiria o casamento. A nossa festa. Tenho até um vestido de noiva colorido que não se parece nada com um tradicional. Isa vai vestir algo que não sei, junto com um chapéu mexicano. Cumbia. Pensamos em algumas pinturas corporais pro rosto e pro corpo. Queria usar algo azul nos olhos.

Tomara que todas venham com fantasias. A festa tem um propósito mas também é uma desculpa para me vestir de demônio e receber as mulheres que eu gosto. Não sei se Isa sabe mas eu me sinto realmente mais atraente quando me fantasio assim. Me fantasio às vezes, fora de contexto, pra mim mesma e fico reparando em como o meu olhar gosta do que vejo.

– Bem, uma amiga minha que você ainda não conhece vai vir hoje, tudo bem?

– Por mim tudo bem. Vou começar a me trocar. Recebi umas fotos no grupo. Você não vai ser a única com um chapéu mexicano rs

– O nome dela é Débora.

– Hm, bonito o nome. Sinto que quer me dizer alguma coisa.

– Quero. Tive um sonho hoje a noite com ela. Nunca me aconteceu de sentir atração nem nada mas no sonho a gente transava aqui.

– Nós três?

– Sim, eu você e ela.

– E você acha que a gente devia fazer?

– Haha não sei. Acho que te contei isso mais porque eu sei que você pensa em fazer um menage e tenho sentido uma parte de mim querer também.

– Tá bem, amor. Vou ficar atenta aos detalhes hoje. Por que não me apresenta ela e nós vemos como as coisas acontecem? Sei lá, não gosto muito de marcar essas coisas. É bom quando essas situações só fluem.

Antes de me trocar pensei em me masturbar no chuveiro. Tem um vibrador que quase não usamos pra quando tem água corrente envolvida. Sempre me sinto melhor e mais viva depois de gozar comigo mesma. Me fantasiar depois disso foi um ritual muito mais gostoso e sensível. Podia sentir meus dedos mais ágeis para pentear os meus cabelos, os batimentos cardíacos mais leves depois de passar o corpo por um estado de clímax e a boca com um pouco de saliva. Me masturbar me causa muitas coisas boas mas, quase nunca me deixa com menos vontade de transar. O efeito é outro e as duas coisas são diferentes.

– Já ligo o som?

– Sim. Quero dançar um pouco você antes.

– Antes do que?

– Antes das outras chegarem, antes de você me apresentar pra sua amiga que eu ainda não conheço, antes da gente talvez fazer um menage.

Rimos juntas e dançamos um pouco juntas. Algumas de nossas amigas chegaram antes. Mais tarde a casa encheu. Em um momento Isa veio até onde estava, avisou no meu ouvido que ela havia chegado, deu um sorrisinho e saiu. Senti um arrepio e sabia o que significava. Antes de seguí-la, parei e observei o meu corpo: corado, com um pouco de calor e uma pequena lubrificação na vagina. Penso se não foi a cumbia grave de fundo que transformou essa informação simples num convite extremamente excitante que percorreu todo o meu corpo, ou ainda, as fantasias que usamos todas e que representam parte dos nossos desejos. Fiquei paralisada uns segundos pensando, mordisquei a boca e fui atrás delas.

– Essa é Carla. Carla essa é a Lorena minha companheira.

– Finalmente! Isabela sempre falou de você e ja estava começando a pensar que ela tinha uma namorada imaginária.

– Haha então que bom que a gente se encontrou pra você ver que eu existo e que faço uma caipirinha maravilhosa. Você quer?

Fomos as três pra cozinha. Conversamos a maior parte da noite. As três. Carla queria ouvir histórias sobre as nossas amigas que estavam na festa porque não conhecia ninguém. Só nós duas. À cada história que contávamos nos olhávamos no fundo dos olhos. As três. No começo olhares mais tímidos mas ao longo dos minutos alguns olhares começaram a acompanhar alguns suspiros. As histórias ainda estavam sendo contadas mas era somente uma desculpa pra ainda continuar mexendo a boca e a língua. Nos aproximamos para facilitar um beijo entre duas. Depois entre as três e alternando. Perguntei se elas achavam que seria muito ruim se escapássemos uns minutos da nossa própria festa. Subimos para o quarto. Acho que ninguém reparou. Fui a primeira a ir para a janela e ficar observando as duas. Disse que me agradaria vê-las dalí um pouco. Gostei da presença do som da cumbia ao fundo, de ouvir os suspiros, os beijos e as vezes em que olhavam para mim. Confesso que ver a minha companheira chupando a buceta dela me proporcionou um orgasmo visual. Visual e físico. De ficar escorrendo. Depois de sentir as coxas molhadas, passei a mão e chupei os dedos. Deitei ao lado delas. Assisti seus orgasmos até o final. Senti uma sensação extrema de relaxamento.

– Deixa eu sentar em você? – Disse pra Carla que estava retomando a respiração aos poucos.

Sentei e ela revirou os olhos quando percebeu o quanto estava molhada. Ao mesmo tempo, pediu pra ser chupada de novo e assim fizemos ficando imersas nos nossos barulhos até retornarmos aos barulhos da festa que havíamos marcado.

 

 


Vaginas y Pedras Íntimas

Posted: July 1st, 2020 | Author: | Filed under: himen elastika literatura erótica anti-pornográfica | Comments Off on Vaginas y Pedras Íntimas

– Bê, e se a gente adiantar esse lance da viagem?

– Aquela que deixamos pro ano que vem?

– É, sei lá, a gente vive trocando ideia sobre essa viagem que, supostamente, seria a mais importante das nossas vidas, que nos ajudaria a ter coragem, abandonar o medo mas aí fica eu aqui e você aí do outro lado do sofá trocando ideia sentada…. Sinto como se fossemos incapazes de decidir algo.

– Tenho sentido isso também mas acho que nunca teria te falado. Achei que era por causa do… você sabe… do tempo que estamos juntas. Uma relação de muitos anos como a nossa não é intensa pra sempre. Eu não sei se hoje eu consigo arcar com as coisas que imaginávamos antes.

– Talvez seja bom imaginar outras.

– Outras o que?

– Outras coisas. Quando a gente se encontrou sem querer nos rolês do centro eu mal pude contabilizar a quantidade de coisas que imaginei poder fazer juntas. Ainda bem que não consigo lembrar daqueles desejos porque eles eram muito mais pensamentos impulsivos baseados nos meus reflexos-pensamentos do que desejos reais. Percebi que os desejos reais vem com o tempo.

– E o que está acontecendo? Já temos o tempo e aqui dentro sinto uma pequena quantidade de desejos. Adoro tudo que está relacionado à você mas, às vezes, sinto que um pouco de mim não está mais aqui quando estamos juntas. Queria voltar nas sensações do espaço-tempo anteriores, nos primeiros meses que passamos juntas.

– A tentativa de ir pro Uruguai?

– Isso! Lembro de cada coisinha que você me disse no caminho.

Foi a primeira vez que eu viajei com uma mulher com a qual eu não tinha laços de parentesco ou relações sexuais/românticas. Não tenho muitas histórias de viagem também. Na maioria delas eu estava com tias, primas, amigas ou, acompanhada da heterossexualidade compulsória. Então as viagens davam histórias diferentes. Depois eu me tornei uma pessoa diferente que merecia uma nova história. Você apareceu e me lembro de te ver nos encontros iniciais como a famosa lésbica trilheira/mochileira. Estranhei no começo mas foi incrível explorar as nossas sexualidades e as cidades em que estivemos juntas. Explorar no bom sentido, o de descobrir, investigar, entender as coisas à tempo. Ainda bem que fizemos.

Você dizia que o único jeito de sermos felizes, sozinhas ou em relacionamentos afetivos, era conhecendo outros territórios, outras pessoas e outros estados de consciência. Nunca fui muito boa com substâncias que alteravam a consciência rs mas descobrimos juntas como algumas substâncias endógenas – de dentro do corpo – alteravam a consciência, o estado físico do corpo, os humores, a saúde, a espiritualidade, a sensação de ter ou não ter felicidade. O orgasmo virou pra mim a minha substância preferida. Você e ele me levavam pra outros territórios pralém do corpo.

Pra tentar chegar no Uruguai primeiro a gente tentou sair do território do centro. Lembro que o primeiro passo foi acampar na fronteira do nosso estado. Andamos muito. À ponto deu achar que já tinha conversado sobre todos os meus assunto nos primeiros dias. Entrei em desespero por achar que não conseguiria conversar. Você me disse que gostava de silencio nas viagens pra sentir que havia saído do centro. Depois disso nunca mais tive medo.

A gente acampou quilômetros e quilômetros antes da fogueira porque não somos boas com planos. Também porque, bem perto da onde ficamos tinha uma cachoeira escondida, um lago e nenhum sinal de presença humana aparente. Desistir de ir pro Uruguai foi a melhor decisão que fizemos.

A barraca que levei era pra 6. Pensamos que assim ela aguentaria as possíveis crises emocionais que poderiam rolar e assim poderíamos dormir mais separadas, também protegeria todos as coisas que tínhamos das chuvas ou do frio e até mesmo abrigaria alguém a mais, se necessário. Não apareceram outras pessoas, não choveu e a gente não brigou. Lembro que lá pela segunda semana que estávamos juntas, achamos uma pedra que parecia uma vagina mas como estavamos chapadas demais e nunca deu pra saber. Só sei que ficou frio pela primeira vez e tivemos que sair da água. Foi a primeira vez que acendemos a fogueira e deitamos num lençol no chão. Você pediu pra eu reparar nas linhas do fogo que saiam da fogueira. As linhas que pareciam bucetas. Quando a gente tenta desenhar uma buceta de qualquer jeito ou correndo. Ri mas tive que concordar. Te disse que já tinha percebido como a maresia me deixava excitada mas nunca tinha me ligado nas sensações perto do fogo. Os nossos corpos estavam protegidos do frio, protegido dos outros e protegidos das loucuras que as vezes nós mesmas fazemos com eles. Lembro de sentir um calor imenso ao pensar nisso e implorar para que você me ajudasse a ter um orgasmo. Parecia o momento perfeito. Você me beijou por uns minutos sentada em cima de mim e disse pra eu prestar atenção em “como você se derretia por mim às vezes”. Eu disse que me derretia sempre. Então paramos de nos beijar e quando me disse pra eu mostrar como queria fazer eu disse que queria tinha ficado com uma vontade enorme de me masturbar mas que não queria parar de beijá-la. Você deitou o corpo do meu lado direito e as mãos dentro do meu cabelo. Me beijou devagar, com alguns selinhos. Quis me masturbar rápido. Abri os grandes lábios. Peguei um pouco de lubrificação na vagina mas também nas minhas pernas escorrendo. Enfiei o dedo do meio na minha buceta e dobrei-o ao mesmo. Fiquei movimentando. Aproveitei o momento de excitação e com a outra mão fiz um pouco de pressão na região da bexiga. Lembro que adorei parar de beijar sua boca e começar a beijar seus seios. Decidi, meio confusa, demorar mais pra gozar e quando não aguentei mais, tive alguns orgasmos seguidos. Comecei a rir. Achei que tinha feito muito barulho mas então lembrei que só tinha eu e você pra ouvir. Nós duas sabemos que o segredo dos orgasmos múltiplos é poder fazer barulho. Lembro que depois também adorei chupar você enquanto agarrava a minha cabeça com as mãos e puxava pra ir mais fundo acompanhando o movimento da minha língua, pra cima, pra cima. Foi aí que percebi que não era só o orgasmo a grandiosa substância mágica afetiva que eu tinha te falado. A substância era gerada nos movimentos todos: o jeito de dedar a minha buceta, masturbar o meu clitóris, roçar o meu clitóris em outro ou em outras partes do corpo, chupar a sua buceta… No fim a gente não foi pro Uruguai mas foi porque nenhuma de nós desejava sair dalí.

 


Meu Espelho São As Outras

Posted: June 19th, 2020 | Author: | Filed under: himen elastika literatura erótica anti-pornográfica | Tags: , , , , , | Comments Off on Meu Espelho São As Outras

– Você já masturbou olhando pro espelho?

Sempre fico meio constrangida com essa pergunta.

– Não. Tenho vergonha de olhar pra minha buceta.

E a nossa manhã começou assim com uma pergunta afiada e uma reflexão profunda que parece que entra pelos olhos até ficar cutucando o cérebro.

Há muito tempo temos feito textos e ações feministas pra nos valorizarmos e pra se fazer perder o medo dos nossos corpos. É ruim de assumir que a caminhada ainda é longa e que às vezes a gente esbarra em uns incômodos estranhos. Não há problema em se masturbar, em olhar as outras se masturbando. As duas coisas são extremamente excitantes mas me pega esse lance de abrir as pernas e ver à mim da perspectiva das outras.

Dá um pouco de medo de olhar pro espelho e de repente não me reconhecer. Quando toco a minha siririca sem ele (o espelho) ainda consigo estar escondida e fico tranquila. Me ver friccionando o clitóris bem rápido seria assumir a minha autosexualidade, reconhecer os pequenos e grandes lábios balançando conforme a fricção da siririca poderia me enlouquecer e acho que eu teria vergonha de ver as minhas caretas.

– Você já? (depois de minutos pensando sozinha)

– Me masturbei olhando pro espelho? (riu). É o que eu mais gosto de fazer… depois de me masturbar pra você.

–  Qual é a sensação de se ver?

– Ah… é muito diferente de ver as outras. Tem vezes que eu olho pro espelho, pequeno ou grande, e nem me reconheço. Pareço um pouco diferente porque estou diferente. Sou uma mulher que se masturba pras outras e se masturba pra si mesma. Também gosto de como reconheço os lábios todos, o clitóris, o colo, os pêlos. Sinto como o clitóris incha quando eu o reconheço e, pode me chamar de louca mas me sinto excitada comigo mesma. É praticamente uma transa. Tem as caretas, os gemidos, uma pessoa fora e outra dentro do espelho. Se eu quiser, posso beijar a minha mão e morder o travesseiro. Tem o cheiro de buceta, os orgasmos fortes e a lubrificação escorrendo pelas pernas.

– Não sei… no caminho tenho medo de encontrar com alguém que eu não conheço.

– Se encontrar, essa pessoa ainda será você mesma.

Fiquei aflita e curiosa. Depois que conversamos, tive um enorme tempo livre e sozinha em casa. Um espaço que poderia ser ocupado por qualquer coisa. Mas das coisas todas uma delas eu queria mais.

Não tenho espelho pequeno em casa. Queria exatamente aquele que imaginei: redondo, mais ou menos do tamanho do meu rosto, com uma aste pra segurar. Pensando melhor tem um espelho que eu usava pra me maquiar que vem grudado com o pote de maquiagem. Do tamanho da palma da minha mão. Levo pro quarto e olho pra ele. De perto dá pra ver meus olhos e talvez e nariz. De longe, o rosto. Reparo como a minha boca é bonita. Qual deve ser a sensação de beijá-la? Se eu passo a língua nos lábios inferiores dá pra ter mais ou menos a sensação. Não posso me beijar mas posso passar a mão no meu pescoço e ver o meu rosto aquecendo. Sento direito. As pernas abertas o suficiente pra sentir como estou excitada. Seguro o espelho com as mão esquerda, aponto para a minha boca e me masturbo devagar. Quando percebi que estava me provocando através do espelho estranhei um pouco mas continuei e os movimentos ficaram mais rápidos até eu gozar. Não sei se isso durou 3 horas ou 2 minutos. Impossível de saber. O espaço e o tempo não entenderiam.

Relaxada do orgasmo quis engatar em outro. Deitada na posição normal não me pareceu atraente. Tem um espelho no banheiro que serve pra vermos os nossos rostos quando acordamos mas eu poderia usá-lo como nunca havia usado antes. Foi preciso uma cadeira pra subir e encaixar a minha vagina no ângulo de espelho que refletiria o meu rosto. Dessa vez não tive medo. Com as pernas um pouco fechadas, abri os lábios maiores da vulva e senti a minha vagina molhada enquanto fazia círculos com os dedos. Posso afirmar com toda certeza que fiquei alí por 350 minutos. O ângulo do espelho não permitiria que eu visse o meu rosto então o imaginei. O cabelo bagunçado, os olhos revirando, a boca sendo mordida por mim mesma. Subindo os dedos para o clitóris apertei-o um pouco mais firme e devagar, criando uma pressão e depois um relaxamento, pressão, relaxamento… Repeti o movimento que fazia com os dedos na vagina nos meus seios ao mesmo tempo. Não sei o que me fez ter aqueles orgasmos seguidos.

Seria possível me masturbar de um jeito que pudesse ver meu corpo, meus olhos e a minha buceta juntos? Lembrei do espelho grande da sala e dos 15 minutos que tinha livre até que alguém chegasse. Pensei um pouco enquanto corria pra ele e quando me vi alí, nua, refletida no espelho, realmente não me reconheci. Passaram-se alguns segundos e me acostumei. Quis fazer diferente das outras vezes e deitei no chão com as pernas dobradas e abertas. Como na posição de um parto. Me vi tão linda. Abri um pouco mais as pernas para ver dentro. Senti tanto tesão que parecia que meu corpo estava derretendo. Enquanto me via, contraía a musculatura da vagina, subia e desci o corpo num ritmo que acompanhava a minha respiração. Sentia como se fosse gozar sem me tocar. Ia gozar sem me tocar. Tive um orgasmo e caí no chão.


Cariño

Posted: May 29th, 2020 | Author: | Filed under: himen elastika literatura erótica anti-pornográfica | Comments Off on Cariño

 

– Em espanhol algumas minas se chamam de “cariño”!!

– Carinho?

– Sim, de carinho, querida, bebê…

– É a coisa mais linda.

Um silêncio.

– Você acha que eu deveria ser mais carinhosa?

– Quê? Claro que não. Por que?

– Ah, sei lá, porque vc veio com esse papo do cariño e tem conversado sobre isso ultimamente. Achei que era um jeito seu de botar o assunto pra mim e me avisar.

– Não… eu só queria te mostrar a palavra fofa. Mas não ligo se quiser me chamar assim rs.

– Você me diria se precisasse que eu fosse mais carinhosa com você?

(Exitei um pouco mas depois saiu). – Diria. (E ela acreditou)

Não diria não. Essas coisas são difíceis. Pedir afeto é difícil porque, às vezes, acho que as pessoas só dão o que elas podem. Pedir mais afeto ou mais carinho seria interferir demais. O problema é que já tem um tempo que não me sinto acarinhada. Estamos juntas num relacionamento? Estamos. Mas não num relacionamento com carinho. Sempre soube que, depois de um tempo junto de alguém, o amor acabava. Isso é óbvio. Tá em todo livro, filme ou novela por aí. Só não sabia que o carinho acabava também. Disso não fui avisada. Fiquei pensando no que é que sobra então. A companhia, o sexo, alguns planos mas eles também desanimam se não tem carinho envolvido neles… Sobra o cuidado também. Cuidado não deixou de existir. Cuidamos uma da outra como se fossemos qualquer pessoa que necessita de cuidado. Carinho é um cuidado específico, mais direcionado. Mais gostoso também.

Talvez isso seja uma urgência amorosa que eu deva informar agora pra ela. Como falo isso? “Oi, sei que seu trabalho tá pesado e que já estamos juntas a um tempo mas será que você podia tentar ser um pouco mais carinhosa comigo?”. Péssimo. Dói de pensar, imagina de falar. Pode ser que eu esteja sendo mimada e exigente demais. É… Ela tem um monte de coisa pra pensar e vai ver isso passou despercebido ou talvez eu realmente não mereça mais do que esse nível de carinho. Há limites pra tudo e sei que tem vez que sou exagerada. Mas não custa falar, né? Já que tô pensando nisso. Posso falar que fiquei pensando nisso depois do que ela falou e queria conversar mais sobre!! Quem sabe mandar uma mensagem agora no meio do dia enquanto estamos cada uma num canto?!

(Txt) – Oi, lindezza. Aqui no trampo tá um tédioooo. Não deixei de pensar em vc nem um segundo, acredita? Tá tudo bem aí?

(Txt) – Tudo! Aqui tá chato tb mas eu dormi dps do almoço e foi legal.

(Txt) – Que bom que dormiu <3 Fiquei pensando dps q cê falou do lance do carinho uma coisa

(Txt) – Foi vc que falou

(Txt) – Eu sei mas vc me fez aquela pergunta e fiquei pensando

(Txt) – Q pergunta? bb tão me chamando aqui e vou ter que fazer umas coisas. Também tô mt tempo mexendo no celular. Vou dar um tempinho. Mais tarde to aí, Bjzzz

Não deu pra falar agora. Muita coisa deve estar acontecendo e é ruim mesmo passar muito tempo no celular, né? Deve ser isso.

Quando cheguei em casa ela já estava lá. Às vezes eu chego antes. Varia. Tava dormindo no sofá. Dei um beijo na testa. Fiz um lanche e deitei junto. Essa parecia uma sensação ideal de carinho mas ela estava dormindo. Não sei até que ponto era uma sensação compartilhada ou eu estava vivendo sozinha.

– Faz tempo que você chegou? (Ela disse acordando)

– Um pouco. Deu tempo de comer e de lavar a louça.

– Hm, então chegou agora porque eu já tinha lavado quase tudo rs

– Tá. Você me pegou. Lavei meu prato e..

(Me interrompeu) – Ai, quer transar um pouquinho?

– Agora? Do nada?

– Sim, você sabe que eu gosto de dar uma rapidinha depois de acordar.

– Ah, baby, não vai rolar. Tô sem pique. Sem contar que, na real, queria trocar uma ideia com você.

– Que foi?

– Preciso que você seja mais carinhosa comigo.

– Ué?! Isso é porque eu sugeri da gente fuder agora? Foi só uma ideia e eu já desisti dela. Por que isso agora?

– Não é agora, bem… você mesma não disse que tinha percebido que esse assunto ta rondando a gente? Teve também nossa conversa hoje cedo sobre “cariño” e sei lá, achei que você tivesse entendido.

– Acho que cê tá viajando. Eu tô o tempo todo aqui pra você. Agora pouco a gente tava abraçada…

– Fui eu que te abracei. Sou sempre eu que te abraço, se eu não não me enfiar no meio dos seus braços acho que eles nem aconteceriam.

– Mas eu retribuo.

– Isso não é o mínimo?

– Já disse que você tá viajando, pedindo demais pra uma situação besta. Vou encontrar umas amigas daqui a pouco pra gente beber no centro. Por que você não vem pra relaxar?

– Não preciso relaxar, preciso conversar com você.

Brigar assim dá vontade de terminar. Sempre. Faz tempo que essa sensação não acontecia mas depois de sentir ela uma vez, já era. A parte boa é que agora tenho um tempo maior pra ficar sozinha pensando e quando ela voltar mais tarde a gente pode investir nisso de novo. Que droga. Odeio ficar esperando por uma conversa que poderia ter acontecido antes. Naquela hora. Qual a dificuldade?

Os minutos tavam passando muito devagar enquanto ela não chegava. Comi todas as unhas e as comidas da casa. Já me masturbei ouvindo duas músicas que eu gosto mas gozei rápido porque não tinha tesão. Ela chegou e agora era eu que estava jogada no sofá.

– Trouxe um docinho.

– Tá bom. Deixa aí que depois eu como.

– Que houve?

– Comi todas as comidas da casa enquanto você não chegava e agora to sem fome.

– Tá, mas o que houve mesmo mesmo?

– Você me deixou aqui no meio de uma conversa que era muito importante pra mim.

– Te chamei pra ir comigo beber com as meninas.

– Mas eu queria que a gente, pelo menos, tentasse concluir as conversas, as ideias. Não queria tomar cerveja e falar besteira hoje.

– Desculpe. Devia ter ficado. A gente nem bebeu quase nada. No final das contas ficamos conversando sobre o casamento da Isa que vai rolar mesmo elas se odiando. É tudo pra manter a imagem delas de relacionamento eterno. Fico triste. Daí pensei em você. Que preciso melhorar. Que te amo como nunca amei ninguém.

– E isso é bom? Você me amar como nunca amou ninguém antes? Me diz por que eu preciso saber. Às vezes acho que se você me ama como nunca amou ninguém então não quero.

– E o que é que você quer?

– Quero que você seja mais carinhosa comigo!

Silêncio.

– Da primeira vez que você me disse isso eu não dei tanta atenção mas agora entendo a importância. Será que você me desculpa e me diz como que eu tenho que fazer?

– Sim, cariño.

Um abraço depois disso e senti que parte das coisas estariam resolvidas.

– Linda, acho que agora eu tô pronta e tô querendo transar com você. Na real, enquanto você não tava eu até toquei uma siriricas só que senti falta de beijar sua boca enquanto tô pra gozar. Igual a gente faz.

– Hmm eu tava pensando e querendo a mesma coisa.

Ficamos abraçadas um tanto de tempo. Difícil desgrudar de um abraço carinhoso. Além de tudo, às vezes, no meio do abraço, as pernas se encaixam dum jeito que não dá vontade de sair. A vontade é a de apertar mais, roçar, roçar, roçar até ter um orgasmo. Estar abraçada também deixa que a gente sinta, beije, mordisque o pescoço uma da outra. Não deu pra ficar muito tempo de roupa. Tiramos os shorts que já estavam quentes. As calcinhas grudando. Ela abriu as pernas. Encaixei as minhas de um jeito que meu clitóris roçava na coxa e, depois no clitóris dela. Pra cima e pra baixo. Adoro a fricção e todo esse momento. A cama balançando, o corpo indo e voltando, a gente mordendo a boca. Às vezes demora um pouco pra gozar mas outras vezes eu já gozei antes de começarmos. Dessa vez gozei antes, depois, durante. Já acabou e ainda tô gozando.

Tesoura é instintivo, né? Tem vez que nunca vai mas é sempre gostoso. Quando estamos muito molhadas posso ouvir os barulhos. Até esqueço que quero atingir um orgasmo quando roçar é o orgasmo em movimento. Parece que uma buceta quer comer a outra. Nem imagino como deva ser gozar ao mesmo tempo.

 

 

 


Anti-Romântikas

Posted: May 27th, 2020 | Author: | Filed under: feminismo | Comments Off on Anti-Romântikas

Anti- Romântikas

Matar o amor para convencê-la

a não vender seus órgãos, seu afeto e seus sentidos

guarde-os com você junto com seus olhos

e os sistemas de pensamento.

Infelizmente você abriu seu coração pra um verme

quando estava fingindo estar apaixonada, lembra?

Eles tem muitos formatos

geralmente são homens, livros, cursos de animação, homens,

jogos de azar, amigos antigos, homens ou homens.

Achou que abrir o seu coração para uma mulher te traria sorte

mas isso não é um serviço de teleatendimento

não atenderão aos seus pedidos

e você vai se sentir a própria metáfora do coração partido

em carne viva e mentira

a literatura sobre amor nunca enganou

devemos matar o amor

e o que fazem juntas duas pessoas que não se amam?

companhia, sexo, carinho, comida pras amigas…

não vejo a hora de estar ao lado de alguém que eu não amo

falar com estranhas e dormir com conhecidas

gostar muito mais das amigas

que são todas

ainda dá pra cantar o amor nas músicas e as metáforas do coração batendo,

do coração partido

tudo tão anti-científico

e o afeto que sinto?

matar o amor para convencê-la

de que as relações não correm perigo

agora pode viver sozinha, viver comigo

não precisamos de mais mentiras ideológicas entre nós todas

além das que já temos

matar o amor para convencê-la